Solidão na velhice

Ela sozinha, chorando num cantinho da calçada todas as noites. O seu soluço era inquietante denunciava a dor dilacerante de sua alma. Tão idosa e tão só, sem nenhum atrativo que despertasse a curiosidade de alguém que só busca as aparências e as coisas rápidas, não haveria tempo para ser notada. Uma dúvida pairava no ar: onde estava o seu filho doente, sua companhia de todas as noites que por suas limitações mentais o fazia ver a beleza da lua, das estrelas, ou dos chuviscos das noites frias? Os dias se passavam e, ela continuava ali, só, desolada. Tomei coragem e fui ao seu encontro. Ao perguntar o que lhe afligira tanto assim? A resposta foi desconcertante. Seu filho tinha morrido há uma semana, a sua única companhia já não estava mais ali. Parei envergonhado, refletindo sobre quão doentio é o individualismo e como produz solidão, dor, ausência, desamparo. Tornamos-nos estranhos por não termos coragem de olhar para o outro e percebê-lo como gente, só coisas, enfeites de uma rua, de um espaço.