NA HORA MAIS ESCURA

Temo pela hora mais escura, pois nela hei de perder minha ventania, minhas nuvens carregadas de tempestade, meu estado de noite perene. Temo por esta hora de raiar, de clarear, de alvorecer, pois me acostumei com a densidade e suficiência noturna onde as estrelas são palavras e seu avanço só depende da mão, um Apolo auriga inverso. Observo a sombra que sobre o papel projeto, por vezes é só a penumbra de borrões promissores em outras é breu fechado capaz de gerar luz, compacto pactuado em significado da lei maior dos signos expressos ao contrário do ordinário. Penso no horizonte de promessas do papel e na sua claridade inorgânica e venho sobre ele feito guerreiro com minha noite imaginativa antes que o vazio do seu corte de brancura estéril me surpreenda e nesta suspensão de bloqueio criativo das trevas verdadeiras me prenda.