Em dias como esse - Órbita Reflexiva

Sabe aqueles dias em que você se sente a pessoa mais solitária do mundo? Que você caminha pelas ruas como se só existisse você naquele momento, no meio de tudo? Como se apenas o som do vento acompanhasse o movimento do seu corpo em passos lentos, leves, delicados como o próprio pensamento vago sobre a existência.

Em dias como esse, o melhor é pôr as mãos no bolso e fingir liberdade, mesmo mergulhado em si mesmo. Às vezes, sinto-me assim. Não quero falar nada, apenas caminhar, caminhar e pensar em mundos mágicos, sonhar, imaginar coisas inimagináveis, flutuar em tempos remotos, ir e vir em flashes de memória.

Às vezes, preciso desse tempo. Não tem jeito: sou pisciano, poeta, artista sem par, voando solitário no mundo criado por mim mesmo. Crio mundos porque me entedio com o real. Sou mutante e insuportável. Às vezes, nem eu me aturo. Mas, no fundo, gosto de ser detestável em minhas peculiaridades. Até aprendi a administrá-las melhor. Aos poucos, vou compreendendo o universo que me compõe, o quebra-cabeça que me dá sentido.

Em dias como esse, sinto vontade de me ver como antena, captando tudo, até o silêncio das palavras não ditas. Sou todo coração. Choro como quem deseja transcender, habitar um novo entendimento. Viajo em uma órbita reflexiva e descubro respostas que não havia tido anteriormente.

Às vezes, esqueço o meu nome. Sinto que não sou a cara que tenho. Minha alma tem outra cara. É livre em sua essência. Minha alma, quando estou só no quarto ou mesmo na rua, assume formas que penso repentinamente. Minha alma imaginada transforma o meu corpo pensado. Ela alonga os braços, agiganta as mãos... Então, passo a tocar horizontes inalcançáveis aos que não possuem o dom de sonhar.

Em dias como esse, gosto apenas de escrever, de tocar os pés no chão, de sentir o pulsar da vida, o alvoroço de viver... gosto de mergulhar nos neurônios inabitados e explorar novas idéias... gosto de avançar nos questionamentos da existência... quase posso traduzir tudo e não me desesperar por saber-me limitado e temporário. SOMOS TODOS TEMPORÁRIOS! Para uma alma não preparada, essa afirmação assusta e acaba por impeli-la a cometer gestos vis em busca do aprendizado.

Em dias como esse, nada melhor do que dormir sem pensar em nada (ou pensar em tudo), depois de ter escrito as coisas impressas nesse papel. Afinal, tenho certeza que se eu buscasse conversar com alguém, nada soaria tão simples e traduzível como a sensação que senti agora ao dar o ponto final nesse texto.

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 05/09/2017
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