O tempo de recuperação de um ferimento depende da extensão do estrago que a carne sofreu. Há feridas que ficam abertas anos a fio. Tornam-se crônicas. Algumas vezes dão a impressão que fecharam, que não doem mais. Porém, basta uma pequena cutucadinha na aparente cicatriz e ela volta a sangrar.
Tenho um ferimento assim no dedão do pé. Mas, quem se importa com uma dor no dedão do pé quando outra adentra a alma, desassossega e mina a concretude dos dias?
Há dores do coração e da alma que doem mais que a dor física. Para essas dores cada um tem seu tempo próprio de cura, de recuperação. Dizem que há dores que permanecem o tempo que a gente se permite senti-la. Talvez sim. Talvez não.
Talvez tenha ficado algo para ser dito. Talvez devesse ter gritado. Talvez devesse ter pedido ajuda... Dizem que sufocar as emoções e não dizer o que machuca é como acariciar o punhal cravado no peito. No meu caso, nas costas.
© Suzana França 2017
Excepcionalmente, para este texto não publicarei os comentários.