O tempo de recuperação de um ferimento depende da extensão do estrago que a carne sofreu. Há feridas que ficam abertas anos a fio. Tornam-se crônicas. Algumas vezes dão a impressão que fecharam, que não doem mais. Porém, basta uma pequena cutucadinha na aparente cicatriz e ela volta a sangrar.

          Tenho um ferimento assim no dedão do pé. Mas, quem se importa com uma dor no dedão do pé quando outra adentra a alma, desassossega e mina a concretude dos dias?

          Há dores do coração e da alma que doem mais que a dor física. Para essas dores cada um tem seu tempo próprio de cura, de recuperação. Dizem que há dores que permanecem o tempo que a gente se permite senti-la. Talvez sim. Talvez não.

          Talvez tenha ficado algo para ser dito. Talvez devesse ter gritado. Talvez devesse ter pedido ajuda... Dizem que sufocar as emoções e não dizer o que machuca é como acariciar o punhal cravado no peito. No meu caso, nas costas.


© Suzana França 2017
Excepcionalmente, para este texto não publicarei os comentários.
Suzana França
Enviado por Suzana França em 07/09/2017
Reeditado em 08/09/2017
Código do texto: T6107517
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.