No dia da cegonha

Depois de uma espera de nove meses, chegou o momento tão esperado e com ele o nervosismo de esperar alguém que fizera parte de sua vida de uma forma indireta.

Minha mulher se internou na segunda feira para começar o trabalho de parto, sentia algumas contrações, mas, não eram suficientemente fortes para o parto, o médico que estudou por tantos anos horas a fio achou melhor ficar no soro por causa de um dedo de dilatação, e quem sou além de um simples mortal para contestar sua decisão? Pois bem, acabei ficando na sala de espera com mais dois pais "frescos", ambos eram os primogênitos, já no meu caso não, era meu quarto filho. Todos eles estavam nervosos com tudo que estava acontecendo, no caso de um deles, o convênio médico não estava liberando para a internação, e veja você que interessante, a mulher lá dentro prestes a dar a luz e o pai lá fora, irritado e nervoso ao mesmo tempo, nervoso pela chegada do filho e irritado por ter pago por tantos meses há um plano que, na hora que verdadeiramente precisa dos serviços já pago, não podem dar. Isso é algo interessante, de profunda reflexão, se temos um plano de saúde e não pagamos, não podemos ser atendidos, mesmo que sejamos clientes antiguissimos, se faltar a última prestação... Morremos na calçada ou na fila de espera de algum INSS de greve? E quando o vencimento calha de ser em um final de semana? E, para melhorar a situação neste mesmo final de semana precisamos de um médico? Infelizmente, temos que esperar... Mas seria infelizmente para o convênio? Claro que não, eles já receberam por muitos meses, caso não tivessem, não mandariam boletos bancários para serem pagos. Agora imagine para aqueles dois pais "frescos" que estavam sentados em um requintado banco de espera, com poltronas macias, uma máquina de café e uma televisão? Não, eles não estavam calmos, suas mulheres não estavam por ali, estavam em uma sala, com seus primogênitos aguardando pela autorização do convênio. E eu, também estava ali, esperando a dilatação, torcendo para um parto normal e tranqüilo, queria ver minha filha nascendo, mas, tinha que pagar, não era um valor expressivo mas para quem não tem muito no momento... é um tanto complicado. Acho que isso deveria ser gratuito, pois é um momento mágico e que, hoje em dia, infelizmente não se pode repetir com tanta freqüência por causa dos custos, não que seja caro ter um filho, mas as condições do mundo e de tudo mais se tornaram absurdas, isso deve ter alguma coisa haver com o absurdo no preço dos tomates, quase cinco reais o quilo! Isso é absurdo! Temos que parar de comer salada e viva a carne e o frango! Mas voltando ao parto, é previsto em lei o direito do pai assistir ao parto de seu filho, e mesmo assim eles cobram... Dizem que é para as roupas, mas quando você paga um hospital, acaba pagando até mesmo aquilo que se come, que, uma pessoa que coma a quantidade de comida que eu como, em dois dias perderia uns cinco quilos.

Retornemos aos pais frescos, os quais, guardo a fisionomia com carinho para um dia, quem sabe, poder dizer um "como vai sua pequena cria?", no final das contas, tudo se arranjou com exceção de uma das mulheres, seu marido foi o qual mais conversei, trabalhava para a Porto Seguro, estava nervoso e determinado momento desapareceu da sala, logo após surgiu uma mulher de estatura mediana, caminhava lentamente, pelo tamanho da barriga imaginei que estava para nascer, seus traços lembraram uma índia, os cabelos longos, negros e lisos, a pele morena e usava óculos, ela olhou para a sala, falou algumas palavras e depois saiu dizendo que iria comer. Logo em seguida, o marido apareceu e, não sabia que aquela era sua mulher que ficara conhecida como "a fujona", por ter descido para comer uns salgadinhos, não a culpo, talvez ninguém tenha explicado, mas para dar a luz você precisa estar em jejum para não ter nada no estomâgo, conclusão, o filho que era para nascer na madrugada, acabou nascendo depois de muitas horas de espera.

No dia seguinte encontrei os dois, ela já estava andando pelo hospital como se nada tivesse acontecido, eu simplesmente sorri ao saber que ela era a mulher daquele simpático rapaz, e fiquei feliz em saber que o filhinho deles estava bem. A minha, estava ótima e como um bom pai coruja, reconheci seu choro, a vi distante, sendo limpa pela enfermeira em uma bancada recoberta por um lençol, tinha certeza que aquela era minha filha e quando a vi pelo vidro... Me apaixonei loucamente, ainda mais por parecer com o joelho da minha mulher que é mais bonita e menos batido que o meu.

Homenagem a Nathan e Gabrielle os filhos dos pais frescos que nasceram no dia 09 e 10/08/2004, felicidade a todos vocês!

adriano villa
Enviado por adriano villa em 17/08/2007
Código do texto: T610893
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