Lava Jato: a tragédia de uma farsa

A histórica Operação Lava Jato, digo histórica por que deverá obrigatoriamente ser estudada e investigada por qualquer estudioso sério do Brasil da primeira e segunda década de 2000, será vista como a maior manobra política disfarçada de investigação já realizada no mundo.

Como ela foi possível? Será que antes dela, não havia juízes, promotores e delegados federais dispostos a acabar com a farra destes bandidos públicos? Sim, só que eram engavetadas ou no máximo atingiam seus operadores não políticos e sem costas quentes*.

A Operação Lava Jato era pra ser mais uma daquelas que seriam fadadas a um engavetamento ou no máximo atingiria contadores, advogados e pessoas não ligadas diretamente a ministros ou a presidente.

No escândalo do Mensalão o mais ferrado com isto foi o operador Marcos Valério, temos a impressão até de que ele foi o maior beneficiário do dinheiro que lavou (ironia), levou também José Dirceu porém absolvido 2 anos depois pelo STF. O desencadeador da crise foi o famoso Roberto Jefferson, movido pela crise que a inveja das malas alheias estava gerando entre os seus comandados no PTB e aliado do PT na época. Eles queriam malas, mas as malas eram para os indecisos. Os aliados já tinham cargos graúdos no governo e estatais.

A Operação Lava Jato era pra ter o mesmo destino das tantas outras investigações abortadas e espetaculares que no final terminavam em pizza. Mas desta vez, certo grupo de aliados do PT e com uns pauzinhos da oposição derrotada (PSDB) resolveram deixar que a operação minasse o governo de Dilma Rousseff - que não sabia jogar tão bem o jogo como jogava Luiz Inácio Lula da Silva.

Era preciso que certos membros do nosso judiciário estivessem autorizados a deixar esta operação avançar mais que o habitual para que atingisse o PT e um impeachment se justificasse diante de uma população escandalizada.

O PT acreditou que por estar junto e amarrado com o PMDB nestes esquemas, seria suicídio deste fomentar uma operação que poderia minar o próprio PMDB - afundaria todos juntos. Não faria sentido nem o próprio PSDB fomentar estas investigações visto que em outros níveis se beneficiavam deste recursos de caixa 2.

> O Momento de Parar

A Operação Lava Jato já tinha cumprido seu papel de destruir a imagem do PT e preparar as almas dos brasileiros para um novo impeachment. A direita ganhou espaço nas ruas, nas redes e nas falsas organizações não partidárias. Os conservadores ressentidos das políticas sociais do PT foram convidados e ganharam voz.

O problema é que muitos promotores, investigadores e juízes acreditaram que a "limpa" seria generalizada. Eles acreditaram que a força que tiveram no primeiro momento era fruto de ousadia e inteligência aprendida em seminários estrangeiros e com a famosa Operação Mãos Limpas na Itália. Esta ideologia de que a competência judiciária estaria acima das disputas políticas rendeu seu fruto.

Um outro sinal, estranho para aqueles heróis ingênuos, foi expresso por Romero Jucá em diálogo com o Machado. "Parar a Lava jato" , "Com supremo com tudo", "A solução é botar o Michel no lugar"...

Era hora de fechar os portões do Inferno. Deputados preocupados, senadores aflitos, governadores alarmados, enfim a operação já estava indo longe demais.

Os membros desta operação acreditaram que o apoio popular blindaria qualquer iniciativa do governo de frear suas ações. A própria Dilma já estava a esta altura imobilizada e pronta para a imolação do impeachment.

Era preciso que um novo governo articulado com o supremo produzisse uma solução para esta caça às bruxas. Então Michel Temer e seus aliados no Supremo, conseguiram realizar uma manobra interessante: a Operação continuaria a investigar, mas seria detida no congresso e o Supremo não interferiria em suas decisões.

Esta manobra inteligente e combinada teria como bônus atingir o Lula e provavelmente impedir que o mesmo se candidate a presidente pra 2018.

O maior erro do PT foi acreditar num acordo de mafiosos, aquele em que todos estão encrencados e unido de tal forma que seria suicídio um partido entregar os esquemas do outro sem se entregar também. Um acordo deste só funcionaria se a justiça agisse de forma imparcial punindo qualquer independente do partido.

O PT não contava que o Supremo tivesse ali elementos chaves para deturpar a justiça a favor do PMDB. Bastava se omitir no caso da Dilma e "respeitar" a divisão de poderes ( no caso do Temer) que voltaria ao seu lugar - exceto Dilma Rousseff é claro.

Os heróis da Lava Jato foram feitos de bobo. Sérgio Moro ganhou uma imagem pública que não condiz com os limites e problemas que sua justiça enfrentou. Rodrigo Janot esta desmoralizado e vilipendiado pelos políticos contra os quais lançou sua cruzada quixoteana.

Os batedores de panela envergonhados, sem perspectiva de aposentadoria, sem concurso público, pagando gasolina cara, em breve sem Federal gratuita, ainda culpam o PT por todos estes males.

Rodrigo Janot ainda esta na sua cruzada. Não sei se ele ainda não percebeu que a epopeia contra a corrupção se mostrou de fato uma farsa. Não sei se ele tenta uma saída digna, agindo como se realmente existisse uma justiça séria no país, mas sabendo que não.

Fontes e extras:

>>> Diálogos do Juca antes do impeachment

"Conversei ontem com uns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de... sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’."

"Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]... É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional, sugere Machado.

- Com o Supremo, com tudo, afirma Jucá.

- Com tudo, aí parava tudo, anuncia Machado.

- É delimitava onde está, pronto, afirma o senador peemedebista."

"- A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado..., diz Machado.

- Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com..., responde Jucá.

- Isso, e pegar todo mundo."

"- E o PSDB, não sei se caiu a ficha já. [Machado]

– Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador], responde Jucá.

– Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

– Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

[...]

– O primeiro a ser comido vai ser o Aécio."

fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/24/politica/1464058275_603687.html

>> Depois do impeachment

>>>“Acabar com a Lava Jato. Esse parece ser o próximo passo do PMDB. Infelizmente muitas pessoas que apoiavam a investigação só queriam o fim do governo Dilma e não o fim da corrupção. Agora que Temer conseguiu com liberação de verbas, cargos e perdão de dívidas ganhar apoio do Congresso, o seu partido deseja acabar com as investigações. Mas, mesmo com todas as articulações do governo e de seus aliados, as investigações vão continuar por todo País” Procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima - Força Tarefa Lava Jato

Fonte >http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/muitos-queriam-fim-do-governo-dilma-e-nao-da-corrupcao-diz-procurador-da-lava-jato/

> Liberação do Aécio o que seria o primeiro a ser comido

"ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou nesta sexta-feira (30) o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) das funções parlamentares. Com isso, Aécio poderá retomar as ativades no Senado.

Na mesma decisão, o magistrado negou um pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) para prender o senador.

Na decisão, Marco Aurélio Mello escreveu que o PSDB é um dos maiores partidos do Brasil e que Aécio tem uma carreira política "elogiável".

"O agravante [Aécio] é brasileiro nato, chefe de família, com carreira política elogiável – deputado federal por quatro vezes, ex-presidente da Câmara dos Deputados, governador de Minas Gerais em dois mandatos consecutivos, o segundo colocado nas eleições à Presidência da República de 2014 – ditas fraudadas –, com 34.897.211 votos em primeiro turno e 51.041.155 no segundo, e hoje continua sendo, em que pese a liminar implementada, senador da República, encontrando-se licenciado da Presidência de um dos maiores partidos, o Partido da Social Democracia Brasileira."

fonte: https://g1.globo.com/politica/noticia/ministro-marco-aurelio-mello-derruba-afastamento-de-aecio-neves.ghtml

> Excesso de provas no Julgamento do TSE

"O placar favorável a Temer e Dilma só foi confirmado no voto do presidente do TSE, Gilmar Mendes, a quem coube desempatar o julgamento.

No voto, o ministro disse que cassação de mandato só deve ocorrer em “situações inequívocas” e que o tribunal não existe para resolver crise política, argumentando em favor da “estabilidade”."

fonte: https://g1.globo.com/politica/noticia/por-4-votos-a-3-tse-rejeita-cassacao-da-chapa-dilma-temer-na-eleicao-de-2014.ghtml

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 12/09/2017
Código do texto: T6112361
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