38. Fiel Companheira

Uma certa dose de ódio encontra conforto em meu impávido coração quando levantam contra mim muros que não consigo derrubar, e todos nós temos esses inimigos intransponíveis – partem de todos os lados procurando nocautear a chama de juventude, chama da resistência rebelde, que aflora no âmago de nossa existência, mas que perde, pouco a pouco, seu calor.

Deveria eu me revoltar contra o muro ou contra mim? Sinto que este ódio que exala de minha respiração mental intoxica mais a mim do que a meu inimigo – ele continua imaculado, enquanto eu decaio em uma forma mesquinha, incapaz de raciocinar sobre simples fatos, de encontrar qualquer aconchego, mesmo que no mais macios dos colchões.

O travesseiro também é rígido, os pensamentos, pesados, carregados de um temor que não me abandona, do qual fujo há década, mas que sempre me encontra – e aquele muro, rígido, agora me cerca de todos os lados, dono de uma imponência jamais vista por mim.

Tateio o escuro, à procura de uma saída, escondida de mim por mim mesmo, sinal de minha covardia para a qual já dei as mãos há muito, da qual não me separo, minha única e verdadeira companheira – fiel covardia.