Da  série:Meus  tipos inesquecíveis.

A " BATCHARKA " DE DONA IRENE




Uma das coisas boas da vida ,sem dúvida, é a política da boa vizinhança.
E quando mora-se no “
interiorrr “ aí, a convivência é um capítulo à parte.
Meu bairro cresceu muito nos últimos anos, mas cultiva-se ainda aquêle velho hábito (meio maluco, diga-se de passagem) de mentalizar a cantiga do galo de fulano, os latidos do cachorro de ciclano , além dos abundantes e escancarados bons dias,boas tardes,boas noites...Como vais? Por onde tens andado...dentre outras amenidades do gênero, direcionadas à todos com quem topa-se pelo caminho.
Supermercado, então !...É  prato cheio. É ponto de encontro, é local onde sabe-se as mais “fresquinhas” dos acontecimentos pelas cercanias, ouve-se conselhos, indicações de remédios que são “tiro e queda” pra qualquer tipo de doença,alertas sobre o perigo dos agrotóxicos e...as receitas.
Estas surgem aos montes .Em cada seção haverá sempre alguém incorporando a Ana Maria Braga, ensinando desde a maneira mais prática pra se tirar manchas até um truque para deixar o frango de domingo com ares de peru de natal.
Mas, afinal...E a dona Irene?
Pois bem,deixem-me falar desta minha vizinha à quem quero muito bem.(aliás, ela já foi tema de outra crônica que postei aqui no recanto) Magrinha, olhos miudinhos escondidos atrás das lentes grossas dos óculos,fala mansa, pausada, expressão sempre tranqüila, antenada e...Vaidosa.
Tira de letra os seus mais de 75 anos.Mora no topo da rua Espírito Santo e cultiva jasmins ao lado de fora do muro. Descendente de ucranianos , preserva ainda algumas tradições de sua etnia.
Eu  ali...Às voltas com pimentões e tomates (estes últimos vermelhos de  vergonha diante da feiúra de suas aparências) quando surge a ilustre na seção de horti-fruti .
Rola um bate papo:
_Olá, tudo bem? Como vai? E a família?...O frio,os preços,a cara feia dos tomates,dos abacaxis,blá,blá,blá...blá,blá,blá, também  fazem  parte  do  pacote...
Ela observa os pimentões em minha cesta e dispara:
_Hum ! Pelo visto vais fazer uma “
Batcharka” !?
_
Batcharka ? Dona Irene.Que que é isso? rsrs...
A explicação não foi lá muito convincente mas, acabei por concluir que “
Batcharka” deve ser um termo da língua ucraniana,no mínimo.(brilhantíssima descoberta ! Pensei com meus botões. As  vezes  fico  surpreso com tanto  "brilhantismo" em  minhas  percepções)
Dona Irene, diante de minha expressão um tanto confusa, fez questão de expor por  inteiro a sua
Batcharka  ali mesmo naquela seção do supermercado, ainda que diante de dezenas de curiosos.
Voltei para casa com a idéia fixa de experimentar aquela tentação,o que acabou acontecendo e posso afirmar que foi muito bom,mesmo!
Caso alguém tenha interesse em provar a
Batcharka da dona Irene,basta seguir as minhas instruções:
Tome em suas mãos (meio  ridículo isso,né?) três pimentões.Um vermelho,um verde e outro amarelo.Corte-os em tirinhas e  as coloque no liquidificador.Acrescente 3 colheres de azeite de oliva,um copo de vinagre,sal à gosto e uma folha de louro.Triture um pouco,o suficiente para reduzir o tamanho dos pimentões,sem deixa-los muito moídos.
Coloque num pote,conserve em geladeira por uns dois dias e pronto.
A
Batcharka de dona Irene fica uma delícia para acompanhar carnes,temperar saladas,etc...Se você for vegetariano,ou adpeto à alimentação natural,sem problema...Jogue a Batcharka da dona Irene sobre o seu pratinho de arroz integral e ele ficará bem mais saboroso.Quanto  à mim, a prefiro sobre um  leitãozinho à  pururuca.

Joel Gomes Teixeira

PS.Este  texto, agora  reeditado, foi  escrito em setembro/2011.A  nossa querida  vizinha já não mais  está nesse plano,embora  esteja  sempre  presente  em  nossas melhores  lembranças.




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27/09/2011 18:45 - Malgaxe
Batcharka, ja salvei aqui num dos bloquinhos de nota que enfeitam minha área de trabalho, não vejo a hora de experimentar. Estas figura que passam pela nossa vida, marcam e eu também tenho algumas destas, mas eu só quero lembrar dos sons, que você fala aqui, você me fez lembrar que a gente sabia, os sons dos apitos das "fábricas", o da Carvorite mais longinquo, o dos Gomes choroso e interminável, do Varela, parecia que estava a nossa porta, o do Dalegrave agudo alto,nervoso e breve, e do Isal rouco com som de corneta com palheta estragada. Bons tempos aqueles, e um som que me causava muito medo, era o som das sirenes dos carros do bombeiro, acho que não há uma definição exata, senão medo mesmo, mais tarde fui bombeiro a vida toda, e nunca soube ao certo o que isto significava. O que é certo é que o bombeiro sente um frio na barriga quando se desloca para a ocorrencia com a sirene ligada, e tal qual acontece com artistas e jogadores de futebol, so quando começa de fato o atendimento é que o discernimento toma ares de razão, e se faz o que o treinamento ou a experiencia nos dotou. Talvez fosse isso que manifestava-se precocemente nesta futura relação. É isso. abraço

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23/09/2011 14:07 - paulo rego
Amigo e poeta Irati. Delícia de crônica e de "batcharka". A foto, se é de um pé de caqui, é igual ao que tenho no sítio, em Nova Friburgo-RJ A vida, desse jeito, é muito melhor, não. Lembranças à D Irene. abçs

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21/09/2011 22:52 - Betinamarcondes
Boa noite amado...só experimentandoooo...sou curiosa ...( que bom que viajou comigo no meu Viajor...bjus.

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21/09/2011 21:20 - YARA FRANÇA
gostei d receita, da ideia e da vizinhança.

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21/09/2011 06:38 - CONCEIÇÃO GOMES
Hummmmmm! Acho que vou fazer a baita chakra. Eu gosto de pimentões.

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21/09/2011 06:22 - Carlinhos Colé
Boa Joel, vou experimentar. Parabéns!

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20/09/2011 23:51 - Anita D Cambuim
Gostei da ideia, Joel. E vou tentar fazê-la, sem lembrar este nome complicado, que me soa como baita chakra...kkkkkkkmas lembrarei onde foi que aprendi. Abraço!