M O N Z A


Diário de minhas  andanças
31/05/2011


Na canção de Gilson êle quase implora por "uma casinha branca de varanda,um quintal e uma janela para ver o sol nascer".
Quem de nós não gostaria de desfrutar de algo assim?
Conheço uma que não é branca, não possui varanda e nem quintal.
Tem as cores daquilo que foi possível.
Assim, mesclam-se pelo tabuado os tons de amarelo forte, creme e laranja, dispostas alternadamente.
O efeito é surpreende ! E da rodovia que escorre à sua frente, olhares furtivos a apreciam com ternura.
Varanda?
Á quem recebeu de graça o avarandado de gabirobeiras,aroeiras e eucalíptos, um puxadinho à mais seria apenas um desperdício.
Quintal?
Quando cheiros verdes,alface e couve brotam por conta propria ao redor da "casa-cor", empunhar enxada seria um acinte.
Elis já dizia: "Eu quero carneiros e cabras pastando solenes,meu filho de cuca legal"
Carneiros por ali inexistem. Em compensação, cabras,cavalos e vacas pastam solenemente e com a vantagem de ouvirem  alvorada de gansos e cantigas dolentes de galos pelas cercanias.
Nunca falou-me de filhos...Mas a sua cuca é muito legal.
Quem é êste ser de quem até agora omiti o nome?
É Moisés. "Monza" para os íntimos.
Um dêstes amigos que acontecem em nossas vidas como que surgidos do nada,do inesperado.
Nos conheçemos numa de minhas tantas "idas e vindas" nas caminhadas que faço.Moisés,com seus quase 80 anos,está sempre circulando nas imediações de sua casinha colorida.
É alegre,otimista (teria razões suficientes para maldizer a vida) e mais ainda,depois que segundo suas palavras proferidas com o chapéu na mão em sinal de respeito:
"Graças à Deus,tenho hoje a casa propria".
O velho (carinhosamente) Monza,não precisa de mais nada.Os cantores suplicantes de qualidade de vida,o invejariam se conhecessem a sua "casa propria".
E são nestas minhas caminhadas que ,vez e outra, chego na "casa-cor" e sentados num banco,Monza e eu,trocamos dedos de prosa olhando o sol se pondo lá pelas bandas da serra da Esperança,azulada de distância de onde nos encontramos.
Falamos de plantas, de lendas, de causos, e...mulheres!
Com todo o respeito é claro,até porque ninguém é de ferro.
Monza toma o seu chimarrão.À mim que não sou muito chegado ao amargo, oferece sempre um agradinho.
As tardes vão morrendo em céus de caqui  e retalhos de ouro atrás das montanhas agazalham nossos corações sonhadores,apesar das mazelas.
Aí eu me lembro de trechos de  um poema de Quintana que enquadra-se perfeitamente à nossa condição:

"E nêste nosso romantismo vagabundo,inda é pra nós que São Pedro pinta os mais belos crepúsculos do mundo"

Texto reeditado
Preservados os comentários ao  texto  anterior:




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24/06/2011 00:35 - Lili Maia
Vim direto do seu último texto para ler a crônica do Seu Monza. Belíssima! (adorei especialmente os céus de caqui)... Beijos daqui


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02/06/2011 17:25 - YARA FRANÇA
FASCINANTE A DESCRIÇÃO DO LUGAR, DO SEU mONZA E DAS CONVERSA. COMO EU DIGO, FIAPOS DE NOSSAS VIDAS DÃO HISTORIAS LINDAS. PARABÉNS PELA DESCRIÇÃO Q NOS FAZ VONTADE DE IR VER ESSE LUGAR.


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01/06/2011 14:55 - Lenapena
Tudo depende do olhar do morador. Se é feliz sua casa pode ser uma palhoça aos olhos do mundo. Mas aos dele é um castelo primoroso. Já se a felicidade é coisa que passou longe. Pode morar num palacete, que ali nunca encontrará beleza. O por do sol de caqui, só os ve assim dessa cor, quem tem olhos pra ver. Mais uma vez te envio parabéns, pela sensibilidade que vai na sua alma. Lendo seus escritos, volto sempre correndo pra minha vila de infancia. um abraço.


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01/06/2011 00:04 - Lilian Reinhardt
Tudo cala na alma, a beleza do texto, o seu conteudo mágico, a imagem cristalina dessa terra do Paraná que por aqui se irmana, belo demais tudo, parabéns poeta, grande abraço!


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31/05/2011 23:59 -
Poxa, que beleza!! Gostei muito de seu texto!


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31/05/2011 23:40 - Lisyt
Feliz aquele que sabe ver e receber o que a natureza oferece. Seu rincão é encantado? Ou você encanta-o com sua poesia? Abraço e Boa noite, Lisyt


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31/05/2011 22:29 - Anita D Cambuim
Emocionante crônica com fecho de ouro! Belo recanto você vive, Joel! Como é belo o entardecer. E há quem ainda não veja beleza no Mundo! Abraço, boa noite.


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31/05/2011 22:10 - CONCEIÇÃO GOMES
E eu aqui com uma grande vontade de estar num lugar assim, para jogar conversa fora... Feliz de voce que tem um Monza amigo assim.