Sunday Blues

Você sabe do que se trata. Qualquer um já passou ou vai passar por isso – embora, suponho, seja uma situação que afeta mais adultos (não necessariamente muito velhos) do que pessoas muito jovens. Eu digo da bad do final de domingo.

Nem precisa ser tão no final do dia. Li a respeito – a coisa começa a degringolar lá pelas 17h e vai piorando até a hora de dormir. A explicação se dá pelo recomeço da semana, a mítica segunda-feira surge como sua aura assustadora antes mesmo do domingo terminar. A surpresa minha foi achar um nome para isso. E também uma definição. Entra na categoria de depressões sazonais, tipo aquelas que batem, também, ao final de feriados.

Rotina, sempre ela, a culpa e a solução de todos os nossos problemas – ou ao menos é o que nos fazem acreditar. Não deve ter essa única alternativa pra solução da vida. Só que, ao olhar para as outras, o remédio mais amargo parece ser o mais efetivo. Afinal, precisamos de rotina, pois aquela nova tecnologia completamente desnecessária não vai se comprar sozinha. Sim, desnecessária, mas tão legal ao mesmo tempo. Ah, sim, e também considere relevante outros fatores menores tipo a própria subsistência, alimentação, moradia etc.

Já que é assim, olha pra tua família. Na noite de domingo, (quase) todo mundo estaria passando por isso. Não que admitam. Alguns convivem, acostumaram-se. Criaram carapaça, não dói mais. Outros suprimem com todas as forças para ver se esquece e passa. Tentam preencher o vazio com qualquer bobagem que traga alívio pra alma. E por último, bem-aventurados aqueles que se entregam, desistem, choram. Dizem pra que você nunca desista. Bom, erraram. Aqui quem desiste pelo menos bota pra fora, pelo tempo necessário, e depois vem uma sensação de alívio. Diferente de quem guarda, até que uma hora não cabe mais e estoura de vez.

Então, numa família, a noite de domingo é uma penitência secreta. A gente finge que assiste qualquer coisa enquanto, ao mesmo tempo, expurga os males da ansiedade por algo que ainda nem chegou. Essa é a palavra mágica. A bagunça acomete mais aos ansiosos. Simples, ora, é só chegar neles e dizer: tenta não pensar nisso. Não só é inócuo como piora, porque o ansioso fica com mais ansiedade por não ter conseguido domar a ansiedade anterior. Ou ainda, ele tenta preencher o vazio com qualquer distração, mas duas coisas podem acontecer: 1) ele não consegue se concentrar, digamos num filme, e a situação continua a mesma. Ou 2) ele até vê o filme, mas quando acaba volta tudo de novo, ele não esquece, podendo até ser mais forte, misturado a uma sensação de “eu devia ter feito algo melhor nesse tempo, lido algo, produzido algo”. Claro. Como a gente gosta de se enganar. Produzir numa noite de domingo em meio à ansiedade. Certo.

Até que em alguma hora o cansaço vence, a pessoa dorme a segunda logo desponta. No dia anterior, nos é temerosa, parece um monstro. Chega na hora, é só um pinscher que não para de latir, ou seja: inofensivo, apenas chatinho. Mas pra você que chegou até aqui, é possível que tenha discordado do que eu disse em algum momento do texto. Não tem problema. É possível haver outros jeitos de se lidar e de sentir, diferente do que fora descrito. Pelo menos comigo essas descrições sempre funcionam.

GaP
Enviado por GaP em 25/09/2017
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