Infância em detalhes.

Hoje em meio a um turbilhão de coisas um detalhe me lembrou uma parte linda e já esquecida da minha infância. Foi como viajasse décadas atrás a uma cidadela pequena do interior da Bahia, chamada Itapetinga. Estava eu a observar o trabalho cotidiano de um alguém qualquer até que este alguém de posse de uma tesoura começou a cortar o papel sem ser preciso fazer suas lâminas se moverem, só com o fio de corte entre elas, assim ele fez o papel-de-parede se partir em dois. Foi como se em um estalar de dedos tudo voltasse. Parecia que podia sentir até cheiro de mainha, ou talvez vê-la no quartinho dos fundos com o piso só no cimento e ouvir ouvir a voz forte e doce me dizer "Segure aqui este tecido pra eu cortar.". Por um instante embriaguei-me por um misto de alegria e saudade. Lembrei da rua de chão batido, dos gritos de "Eu não sou sua pariceira". Recordei dos beliscões em lugares públicos seguidos de um "Em casa a gente conversa.“ Era como se ela nunca estivesse partido ou que eu jamais tivera crescido ou saído daquela cidadela de clima quente e pessoas humildes. Mas a realidade aos poucos se fez presente, era chegado próximo ao meio-dia. Meu corpo me avisa da fome. E em um novo estalar sorrio lembro de você a fazer aquele bolinho de arroz com as sobras do dia anterior ou talvez aquela frigideira que eu tanto amava, e com toda a habilidade do mundo lançando-a para o ar e fazendo ela rodopiar ao som de minhas risadas, parecia que podia te ouvir dizer "Seu Dique sempre quando me ver fazer isso diz. Chica você é uma artista." Nesse momento percebo que você não estava mais aqui, pois ao voltar pra casa para o almoço não sentiria o sabor que tanto me marcava em minha infância. Mas nesse momento pego meu celular vejo a mensagem que um amigo deixara a pouco. Me inquieto, pois talvez ele precise de um alguém que o ajude a continuar, penso na fadiga do dia e no trabalho que ainda falta a tarde. Então mais uma vez você se fez presente fará vez com os ensinamentos, pensei em o que você faria. E acabei abrindo mão de tudo e indo ao auxílio do amigo. Voltando pra casa os devaneios de imaginar como seria caso ainda estivesse aqui se fizeram presente. Encontro uma amiga que me pergunta sobre coisas cotidianas, relato sobre minha vida e ela me diz "Você é maravilhoso.", mais uma vez sorrio e penso como você faz falta e o quão importante você foi, pois só sou o que por ter aprendido tudo contigo. Chego em casa às lembranças continuam, jogado sobre a minha cama alcanço o celular abro uma foto sua e ao mesmo tempo que vejo o seu rosto vejo o reflexo daquela que quando você se foi tornou-se o pilar que me sustenta até hoje. Mais uma vez embreago-me de alegria e tristeza por esta fisicamente longe para sempre de você e temporariamente de Inha Café Com Farinha. Fito-me pelo espelho vejo meu sorriso, minhas lágrimas e vejo o quanto da você existe em mim. Seco as lágrimas e me permito apenas sorrir.