MARIA VAI COM AS OUTRAS. E VOCÊ?

O ser humano é, fundamentalmente, um animal gregário, ou seja, movimenta-se em grupo, em manada. Em suma, é um Maria vai com as outras.

Se refletirmos um tanto, veremos que a moda, as convenções, os tabus, as religiões, os partidos, os times e mais um montão de costumes coletivos, originam-se dessa característica primordial. É claro que não somos dados a reflexões. Dizia meu pai: “Não tenho tempo para pensar.” Do mesmo modo, majoritariamente, a espécie humana foge da filosofia, ponderação e até da sensatez, preferindo seguir a corrente, o rebanho, adotando os ditames sociais vigentes.

O que aqui escrevo não é nenhuma novidade, ao menos para os pouquíssimos seres que perdem tempo lendo livros ou pesquisando assuntos sérios (yoga, pilates e dietas, também são assuntos sérios, dirão muitos, e eu apenas concordo, balançando a cabeça, como uma vaquinha de presépio). Para a maioria de nós, leigos profissionais e amantes das normas e regras protocolares, seguidas pelas pessoas “de bem”, porém, é até ofensivo dizer que somos tolos como os peixes, que seguem cardumes. Que não pensamos de forma independente.

- Tenho opinião política, sou atuante e luto por meus princípios.

- Visto-me como quero, e não sigo a moda, como a maioria.

- Ninguém me influencia. Tenho personalidade forte e atitudes isentas.

- Vejo, faço, visto e pratico o que quiser. Decido por mim mesma.

- Não é porque sigo uma religião, que não tenho opinião própria.

Essas e muitas outras respostas estão na ponta da língua, para justificar a idiotice dos meus argumentos e ressalvar o quanto, a grande maioria de meus iguais, atua num nível muito intelectual, quase num patamar de sapiência supremo. Todos com quem converso, usualmente ou eventualmente, sabem tudo, entendem tudo, são espertos, dirigem suas vidas sem qualquer preocupação existencial. Suas aflições se restringem ao cartão de crédito, saldo no banco, os carnês, o fiado no comércio, os desejos de consumo, comemorações, bebemorações, etc . . .

Um axioma bem conhecido, diz que, enquanto o sábio tem dúvidas, o tolo tem certezas.

Devo reconhecer que também sou tolo, e assim digo por saber de minhas submissões ao ego, em várias fases desta existência, ao tentar suplantar outros em desafios intelectuais, desejar me dar bem em aventuras sociais, aceitar meias verdades (dá pra quebrar a verdade?) e adotar conceitos fúteis. Ser, enfim, parte da engrenagem da grande moenda civilizatória.

Talvez, a única particularidade que me diferencia da enorme massa humana acéfala, seja a compreensão e aceitação da própria tolice.

Atualmente, houve um aprimoramento da asneira. Alguém pensou: “Por que tentar fazer

pessoas estudarem e aprenderem, se podemos adaptar o conhecimento à ignorância geral?”

Assim, os clássicos foram infantilizados, as escrituras sagradas foram traduzidas e bem simplificadas (e, extremamente, alteradas), as artes foram “desconstruídas” e adotaram uma espécie de simbiose com as manifestações populares mais simplórias, os currículos escolares foram “contemporaneizados”, o que implicou em eliminação de matérias, disciplinas, aceitação da gíria como “linguajar alternativo”, substituição de livros por apostilas e da escrita pelo teste.

Paralelamente, no campo político-administrativo, passamos a contemplar líderes menos identificados com o bem comum, e mais afeitos ao poder, à tirania, à egolatria, com objetivos populistas, armamentistas, territorialistas, oligárquicos. O curioso nisso, é que os temos desde a extrema direita até a extrema esquerda. O discurso é, aparentemente, antagônico, mas todas as atitudes e erros são, exatamente, iguais. A teoria os divide, enquanto a prática os iguala.

Quem já se dedicou, ao menos um pouquinho, a entender civilizações passadas, soube que todas as conhecidas, sem exceção, tiveram períodos de assentamento, ascensão, domínio e decadência, até à queda e extinção. Quando nos estertores, esses povos deixavam de lado seus conhecimentos adquiridos, e se entregavam à dissolução dos costumes, através de todos os meios disponíveis. Buscavam, desenfreadamente, diversão, sexo, exigiam direitos inúmeros e facilidades, mas fugiam de deveres, desrespeitavam-se, mutuamente, vandalizavam, faziam oferendas e mutirões de preces, incondizentes com seus procedimentos usuais e viviam como se tivessem a eternidade para aproveitar, sem notar que seu mundo afundava, sem retorno.

Dá para notar alguma semelhança com nosso mundinho de hoje?

Como dizia o mestre: “Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir . . . “

Ter ou não olhos e ouvidos faz pouca diferença, quando a mente não quer trabalhar.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 28/09/2017
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