ESTA É VERONA

No dia 25 de junho de 2017, conhecemos Verona, cuja população urbana é de 258.765 habitantes, distribuída por 206,63 quilômetros quadrados de área. Embarcamos na Estacioni Centrale, construída em 1826, onde permanecemos por duas horas à espera do trem que nos levaria à milenar e histórica cidade incrustada na região do Vêneto, mencionada desde a proto-história, período anterior ao aparecimento da escrita.

A expressão Vêneto é originária do latim e corresponde a vários nomes de povos antigos. Trata-se, também, da maior região da Itália. A cidade teria sido fundada pelos Celtas e colonizada pelos romanos que a dominaram no ano 89 a.C. Inicialmente, recebeu o nome de Augusta. Ao final da Idade Média, Verona teve um surto de desenvolvimento, construindo pontes e fortalecendo suas defesas com a abertura de canais para proteção das zonas periféricas.

Durante muitos anos, esteve subordinada a austríacos e franceses. Em 1814, foi dominada pelos habsburgos, que empreenderam esforços para fortalecer as defesas da possessão contra invasores e impulsionar a economia local.

O ano de 1816 consigna a incorporação de Verona ao Reino da Itália. A cidade destacou-se artisticamente ao se tornar sede de uma escola pictórica, através da qual Paolo Veronese ascendeu artisticamente.

Pictórica é palavra relativa à pintura. A pictografia, portanto, é o sistema de escrita usado na antiguidade, em que as ideias eram expressas por meio de figuras. Quanto a Paolo Veronese, foi um pintor nascido em Verona, daí o seu nome, originalmente conhecido por Paolo Cagliari, nascido em 1528 e falecido em 1588. Veronese foi um dos mais destacados mestres da Escola Veneziana. Influenciado por Leonardo Da Vinci, produziu afrescos relacionados a figuras mitológicas e cenas históricas de tempos remotos. É autor da obra Tentações de Santo Antão, de 1552, e de cenas pintadas no palácio dos Doges, entre elas, a representativa do trono de Juno e Júpiter.

Atualmente, Verona ostenta o título de Patrimônio da Humanidade, conferido pela UNESCO. Bem merecido. Sem dúvida!

Realizamos visitas à milenar cidade italiana. Conhecemos os principais pontos turísticos da urbe que atravessou mais de dois milênios para nos oferecer extraordinário repertório de acontecimentos que a tornaram merecedora do honroso título de Patrimônio Histórico da Humanidade. Por isso, ela também me pertence. A mim, às minhas companheiras de viagem Matilde, Márcia e Vânia. E também a você, cidadão do mundo.

Dispostos, percorremos parte de nossa herança, constatando que somos realmente ricos. Muito ricos em história, principalmente. Em ônibus de dois pavimentos, de estilo inglês, os chamados hop-on-hop-off, fizemos visita panorâmica à cidade, ouvindo o que nos narrava o guia turístico. Cada informação era gravada no meu telefone celular e fotografada para servir de memória do que vimos, objetivando registrar em livro fatos remotos, monumentos históricos, paisagem, arquitetura e algo mais da beleza inconfundível de Verona.

Deixamos o conforto do ônibus para enfrentar o sol intolerante do verão italiano e, por extensão, de toda a Europa. Nessa época do ano, o calor é insuportável. Mesmo assim, fomos à luta. Percorremos ruas antigas, enfileiradas de edifícios públicos de longas datas, porém, conservados e agradáveis à vista; palácios; monumentos eternizando heróis de um passado às vezes soberbo, outras nem tanto; memoráveis ruínas de confortáveis ambientes de outrora; enfim, uma porção de coisas. Cito algumas como referência e outras por tê-las explorado visual, histórica e culturalmente:

Nas imediações da Piazza Bra, a mais ampla e popular da cidade, grande número de restaurantes disputam espaço com bares, locais para realização de espetáculos públicos, edifícios com fachadas decorativas; e imponentes edificações antigas e contemporâneas, entre elas o Palácio da Grande Guarda, cuja construção foi iniciada em 1610 e somente concluída em 1820; o Palácio Barbieri, onde funciona a Câmara Municipal, construído no século XIX; o Palácio Guastaverza... E muito mais!

A expressão Bra significa “largo”. Na praça com esse nome, encontram-se restos de milenar Arena ou Anfiteatro de origem romana que ainda mantém de pé parte de sua edificação milenar. Lá são realizados shows e eventos artísticos. A Arena, como é mais popularmente chamada, foi edificada no século I de nossa era e é considerado o maior e mais bem conservado monumento erigido pelos romanos durante o apogeu do império.

Nos anfiteatros romanos, sabemos, realizavam-se ferrenhos e sangrentos combates entre gladiadores, além de espetáculos circenses. Segundo historiadores, o povo sentia-se satisfeito com circo e pão, enquanto as autoridades desfrutavam do melhor da festa. Igual ao que acontece no Brasil corrupto de hoje.

A cidade de Verona foi palco de duas histórias de William Shakespeare, intituladas Romeu e Julieta e Os Dois Cavaleiros de Verona.

Conhecemos a casa onde teria morado Julieta, hoje, transformada em museu. Incansáveis turistas, como nós, fotografamos a varanda onde a jovem recebia Romeu para ouvir-lhe apaixonadas confissões de amor. Cômodos da casa, móveis e indumentárias usados no filme do diretor Franco Zeffirelli, realizado em 1968, também foram objeto da curiosidade e de uma miríade de fotografias. A película narra o drama do enamorado casal veronese. Sim, também visitamos o túmulo de Julieta.

O drama aconteceu entre duas ilustres famílias de Verona, os Montéquio e os Capuleto. Romeu era filho de Montéquio e Julieta, de Capuleto. Os dois patriarcas eram implacáveis inimigos.

Peço vênia à autora de um guia de visita à casa de Julieta, a escritora Anna Villari, para transcrever texto impresso na contracapa do mencionado guia. Minha intenção é consubstanciar esta narrativa com o enredo do qual foi autor William Shakespeare. Vejamos, pois:

"Romeu e Julieta, uma história de amor entre dois adolescentes que começa com grande leveza, quase em passo de dança, e que repentinamente, por uma espécie de obstinação do destino, se transforma numa absurda e violenta tragédia, onde no fim o próprio amor gera a morte. Uma história suspensa entre a fantasia e a verossimilhança, que se desenrola em apenas cinco dias, mas cujo eco se propaga nos séculos, espalhando-se, sobretudo através da literatura, da música, das artes figurativas do teatro e do cinema. Pelas ruas da bela Verona, a cidade onde Shakespeare ambientou, no fim do século XVI, aquele que é talvez o mais famoso dos seus dramas, quase que é possível sentir os delicados fantasmas destes dois esplêndidos, apaixonados e ternos amantes, guiando todos os seus visitantes por estes lugares imaginários, entretanto transformados em realidade pela virtude do seu poder evocativo: a Casa de Julieta, a varanda, a Residência de Romeu e o Túmulo. Lugares fictícios e criações da fantasia popular, onde ainda hoje parece residir uma espécie de magia: a magia sem tempo da juventude e do amor".

Encerramos nossa visita à Verona. Retornamos à Milão para novos preparativos de viagem. Nosso próximo destino foi Portofino, que o leitor conhecerá a partir do próximo capítulo.

Na próxima crônica de viagem, de hoje a dois ou três dias, voltarei à presença do estimado leitor. Eu, particularmente, encontro-me apressado para chegar até você como novas histórias. Até lá, portanto!