Inverno

Ela andava de um lado pro outro no quarto, com um cigarro pendurado no dedo da mão direita, enquanto tentava acomodar os cabelos, com a mão que lhe restava livre. Eu ficava observando toda aquela inquietude, sem saber o que dizer completamente subjugado.

Tinha uma tonelada de pensamentos e sentimentos pesando em minha cabeça, mas confesso que não era nada negativo. Longe disso. Eu estava gostando, apesar de me sentir confuso e quase tão inquieto quanto ela.

Mas nossas inquietudes eram diferentes. Ela andava tensa pensando no imediato amanhã, e eu me via perdido num futuro que não tinha muita substância.

Éramos um tanto diferentes, e ainda assim, eu via coincidências em quase tudo que fazíamos.

Rolei de costas sobre a cama e fiquei com os olhos pregados no teto, acompanhando os movimentos dela apenas pelo som que fazia pela casa. Passos pesados, sempre seguidos de longos suspiros e do crepitar sutil do seu cigarro, que espalhava um cheiro de fumo barato de universitário pelo meu quarto.

Eu estava ainda um pouco embriagado de álcool e de umas tantas questões existenciais que vinham me assombrando. – Eu nunca falava com ela sobre isso, com medo de entediá-la. Na verdade, eu quase não conversava com ninguém sobre isso. Com ela, apesar da vergonha, eu pensava, ansioso, se ela me compreenderia.

Acho que compreensão sempre foi o principal para mim.

Se alguém não conseguia compreender minha forma de pensar, não havia motivo para eu estar com ela.

Pode parecer um exagero da minha parte, ou um certo calculismo. Mas não há nada de objetivo nisso. É simplesmente a respeito de sensações. A sensação de que a pessoa sabe exatamente do que você está falando, e ai a comunicação simplesmente flui.

Enquanto eu divagava sobre isso tudo, ela parou de andar e ficou me olhando, como se eu fosse realmente importante para ela.

Quando eu percebi o que acontecia, o tempo desacelerou e eu me peguei preso ao seu olhar, completamente embasbacado. Ela nunca foi de demonstrações de amor, pelo menos nada verbal. Seu amor era prático, e fazia com que eu me sentisse teórico demais. Enrubesci, e ela se aproximou, de forma que eu pude ver claramente seu corpo desnudo. Sua pele branca, seu púbis liso e sem pelos. As formas rosada do seu sexo e de seus mamilos. Seus olhos escuros, fixados em mim...

Ela sorriu e sentou-se do meu lado.

Sorrimos juntos e todas as minhas preocupações desapareceram no ar. Meus pensamentos se dissolveram e se misturaram ao caldo dos meus sentimentos e sentidos.

Queimamos, eu e ela, por horas a fio, com nossos corpos presos.

Me perguntava se aquilo era algo que tinha vindo para durar.

Talvez não fosse, mas era algo que eu sabia que precisava viver naquele inverno, pelo menos...

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 04/10/2017
Código do texto: T6132453
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