A menina e o homem nu do museu

O mundo está estranho. O mundo nunca foi fácil de compreender porque seguidamente somos arrebatados por ondas populares que mudam as nossas perspectivas sobre aquilo que aprendemos e que até então era o certo, seguro e real.

Vivíamos um momento que caminhava para o extremo vanguardismo. Apesar dos olhares atentos dos conservadores, as pessoas começavam a mudar a sua perspectiva e forma de ver e quebrar alguns tabus. Estávamos discutindo assuntos vanguardistas como aborto, maconha, orientação sexual, bulling e assim por diante.

Como vivemos de ciclos, é importante observarmos que esse ciclo passou e agora voltamos a um estado de conservadorismo extremista e preocupante para o futuro do mundo. Não que as idéias conservadoras sejam de todas más, mas dentro de um contexto mais abrangente ela muitas vezes cerceia a discussão e quando não há discussão a tendência é que as coisas retrocedam. É uma lei simples do observatório da humanidade.

Recentemente o Museu de Arte Moderno do Rio de Janeiro vivenciou um “escândalo” nacional, onde um artista foi acusado de pedofilia, uma mãe de desavergonhada e o museu de promotor da criminalidade. Não preciso entrar em detalhes sobre o caso, porque certamente você já leu, viu ou ouviu por ai. Numa performance, um artista nu, deixa que as pessoas o toque. No vídeo da polêmica uma criança acompanhada da mãe toca no homem nu. Pelo que pesquisei sobre o trabalho, a ideia é objetificar o artista. O homem se torna o objeto da arte. Ela é uma crítica ao demasiado valor que se dá para arte e não ao artista. Algo nesse sentido.

O Brasil inteiro caiu de pau em cima da situação. Os “garotos” do Movimento Brasil Livre, assim como já haviam feito com uma amostra de artes em Porto Alegre, deitaram e rolaram sobre o assunto e fizeram o que e fazem de melhor, se promoveram como os arautos da moral e dos bons costumes. Acho esse movimento tão bestial quanto acho a ideologia esquerdista/petista que se aproveitam do nosso país não pensante.

Eu não tenho conhecimento para avaliar a performance que foi apresentada no Rio de Janeiro. Leigo no assunto achei a arte de extremo mau gosto, assim como acho a maioria das peças modernas, e jamais iria numa peça para olhar para um homem nu. Não me apetece tal ideia. Também jamais levaria um filho meu, a um museu, para tocar num homem nu. Em meu ver isso não é certo. Na minha opinião, apesar daquele nu estar aparentemente desprovido de sexualidade, a situação pode ser traumatizante para uma criança.

Veja que sou contra a decisão daquela mãe em levar sua filha para tocar no artista nu. É até meio absurdo. É imoral e desprovido de inteligência, mas como não tenho nada com a vida daquela mãe e assim como eu tenho direito de achar o que é certo ou errado para o meu filho, ela também deve ter o mesmo direito de fazer suas escolhas sobre os seus filhos, desde que não o submeta a uma situação criminosa.

Acusar o artista que estava lá desempenhando a sua peça artística de mal gosto e ruim, na minha opinião, de pedófilo é um absurdo. O artista não estava abusando da criança. Pelo menos nos vídeos que eu vi não houve nenhuma conotação sexual no ato e nem uma virgula do que podemos chamar de libidinoso por parte do artista. Se a justiça discordar de mim, e achar que aquilo era um ato de abuso contra a criança, então que se puna o artista, a mãe e o museu, afinal esse é o papel da justiça.

Não gosto da ideia de um bando de moleque, que sempre viveram no seio da classe média e nunca conheceram a realidade do mundo pobre e miserável desse país se tornarem os arautos da moral e dos bons costumes e passarem a ditar o que é certo ou errado para o restante de nós. Isso é preocupante, pois é quando estamos mais carentes de lideranças que aparecem os maiores déspotas para ocupar esse espaço.

Não vi essas pessoas, heróis da família brasileira, se pronunciarem sobre o caso do garoto que foi deixado dentro de um presídio pelos próprios pais para passar a noite com um preso por estupro de crianças. Não os vi se pronunciando sobre o falho sistema presidiário brasileiro que chega ao ponto de permitir acontecer algo dessa magnitude.

Vai ver, na visão desses geniais arautos dos bons costumes, um menino pobre e negro deixado dentro de uma cadeia para ser estuprado é menos grave do que uma menina branca da zona sul que acompanhada da mãe tocou num artista nu dentro de um museu frequentada pela elite branca desse país e filmada por dezenas de pessoas. Vai ver, ela de fato corria mais risco que a criança pobre do presídio.

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 07/10/2017
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