Os clássicos decepcionantes

OS CLÁSSICOS DECEPCIONANTES
Miguel Carqueija


Existem livros e filmes que a gente ouve falar a vida inteira: são clássicos, obras-primas, “cult”... mas quando um dia temos a oportunidade de ler ou assistir, que decepção.
Lembro-me que faz poucos anos finalmente pude ler o “Drácula” de Bram Stoker. Com fama e tudo, pois o personagem é icônico, foi um dos livros mais chatos que encontrei, todo à base de cartas e diários.
Hoje, porém, quero falar de filmes. Com esses a decepção costuma ser maior.
“Cantando na chuva”. Esses musicais de Hollywood, das décadas de 30 a 60, em geral seguem padrões enjoativos, apelativos. Esse em questão, apesar do prestígio de Gene Kelly, conta uma história ridícula, inspirada na transição do cinema mudo para o falado, quando muitos artistas, por não possuírem boa dicção, ficaram sem emprego. O argumento cai no absurdo, mostrando um grande produtor (e sabemos como os produtores eram poderosos) submetendo-se a uma atriz pernóstica de voz horrível, que o obrigou a mantê-la com outra atriz, de voz bonita, fazendo a dublagem para enganar o público. Quando pude assistir, fiquei espantado com o prestígio de semelhante abacaxi.
Pior ainda é “Sete noivas para sete irmãos”, espetáculo de machismo.
“Os doze macacos” é outra dose para gorila, com enredo muito forçado.
“Os goonies” é típico Spielberg, com malhação o tempo todo e história mesmo, nada. Como “Jurassik Park”, onde só funcionam os efeitos especiais.
Que dizer do espanhol Pedro Almodóvar, que a crítica especializada em geral trata como gênio? Não consegui assistir “Kika” e “Atame!” é de uma vulgaridade atroz.
Tim Burton, useiro e vezeiro em desvirtuar histórias e personagens, transformou Alice em Joana D’Arc e estragou Willy Wonka, que virou um afetado.
Até “Titanic” é um filme muito fraco, misturando a grande tragédia com um romance muito água-com-açúcar.
“O Rei dos Reis”, na versão de Samuel Bronston (1961) deturpa tanto a narração evangélica que chega ao cúmulo de colocar um advogado para Jesus Cristo.
“Anjo azul”, um dos clássicos expressionistas alemães, é uma história inverossímil pelo comportamento do velho professor, meio catatônico em suas atitudes e que joga fora toda uma vida e história de catedrático para acompanhar uma mulher leviana e sua “troupe” itinerante.
Quanto aos recentes filmes de super-heróis, dos que eu assisti não vi nenhum que preste. São geralmente bastante bobos, inclusive o primeiro da série do Homem Aranha, tão badalado. Digo o primeiro, não contando produções anteriores obscuras.
E não só os super-heróis, mas Hollywood costuma errar a mão quando adapta na imagem real personagens d equadrinhos e desenhos. Tentei ver o Zé Colméia na tv, mas logo no início as piadinhas eram tão grossas (não obstante ser filme infantil) que desisti. Também o Scoobydoo abusou com o humor grosso.
Quanto ao cinema nacional, lamento a sua tendência à grosseria que observei em diversos títulos assistidos na televisão, como “Ed Mort”.
Não ligue para a fama ou prestígio de um filme. Ele pode não corresponder à espectativa. Só acredite vendo.

Rio de Janeiro, 8 de outubro de 2017.


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