A decepção de Clarice

Clarice é minha amiga de infância, bonita, simpática, simples e do bem! Na nossa adolescência, época em que saíamos muito, não lhe faltavam paqueras e namorados. Ela não dava muito bola, me dizia que bom mesmo era paquerar, sair, ter liberdade e namorados geralmente eram ciumentos! Isso se dava ao fato de ela ser muito bonita, chamava sempre atenção dos homens. Eu adorava sair com ela, era divertida e acabava sobrando um paquerinha para mim, que nem de longe tinha a sua beleza, mas como ela tinha muitos e não dava conta, eles vinham me paquerar também. Não conto às vezes em que saíamos dos barzinhos e festas, onde frequentávamos, com tantos números de telefones anotados em papéis. Chegávamos a ter crises de risos e muitas vezes não ligávamos para nenhum. Como falei acima, Clarice gostava de liberdade, não queria se envolver com ninguém. Mas o tempo passou, casou, descasou e casou de novo. Novamente não deu certo. Nossa amizade foi contínua, sempre nos comunicamos, embora, às vezes passamos um longo período sem nos ver, cada uma com seus afazeres. Separada, quando marcamos um encontro, ela me contou essa história. Após uns dez anos sem ninguém, paquera, namorado e sem mais querer envolvimento com homem algum, foi numa festa de casamento da filha de uma prima que conheceu Pedro. Foram apresentados e achando-o simpático e agradável começaram a conversar. A conversa ia fluindo bem, os gostos parecidos e logo perceberam as afinidades. Mesmo assim, estava insegura, continuava sem querer envolvimento. Mas sondou com a prima quem era Pedro. A prima lhe disse ser colega de trabalho de seu marido, engenheiro, divorciado e um bom homem. Finalmente Clarice vai embora, se despede de Pedro e ele coloca em sua mão um cartão de visita contendo o numero de seu telefone, dizendo que ficaria feliz se recebesse dela uma ligação ou o visse adicionado ao seu WhatsApp. De imediato relembramos nossa juventude em que não existia celular, nem whatsApp e a comunicação era bem diferente da que temos hoje. Pois bem, continuemos... Clarice me diz que embora tendo gostado de Pedro, resolveu não ligar. E os dias foram passando, ela não lembrava mais dele quando de repente seu celular toca e quem era..claro! Pedro! Deixou passar uns dias e como nada de Clarice ligar, resolveu pedir o número do celular de Clarice, por meio do marido da prima, pedindo para que não dissesse a ela, temendo o fato de que se Clarice fosse consultada, poderia dizer não, já que mais de um mês se passara do encontro no casamento e nada de ligação dela. Pois bem, Pedro ligou, Clarice atendeu e começaram um bom diálogo. Ele querendo marcar um encontro, ela se esquivando, abriu o jogo e disse que não queria envolvimento, estava bem, gostava da vida assim, sem ter que dar satisfações ou querer saber da vida do outro, propôs amizade via WhatsApp, trocariam mensagens, mas apenas isso. Não queria o encontro. Pedro desligou, mas não desistiu, deixou passar dois dias e retornou ligação, assim falando: Clarice somos duas pessoas adultas, independentes, não podemos desperdiçar essa oportunidade que a vida está nos proporcionando, vamos nos encontrar para uma conversa olho no olho, se não rolar química, tudo bem, ficamos amigos. Clarice aceitou. E nesse encontro teve química, física e biologia. Uma sensação gostosa de harmonia e paz. Clarice gostou e muito! E Pedro ainda mais. Saíram desse encontro como namorados. E todos os dias mensagens lindas, frases, vídeos, fotos, encontros, almoços, jantares. Clarice estava perdidamente apaixonada. Disse para si mesma que acertou em dar essa oportunidade aos dois. Muito discreta, contou para os mais íntimos dos amigos e da família e todos torceram pela sua felicidade, inclusive eu! Tempo passando, tudo ia muito bem. Passaram Natal e réveillon juntos, viajaram, dançaram, compartilharam alegrias, tristezas e outras coisas. Porém, após um ano de namoro, percebeu certo distanciamento de Pedro, poucas mensagens, pouca conversa. Ela ligou e quis saber de forma objetiva e clara o que estava acontecendo. Pedro se desculpou, disse passar por problemas familiares, não queria que ela se envolvesse, mas que logo aquilo passasse iria marcar com ela um encontro. Só restava esperar. Clarice enviava vídeos de encorajamento, escrevia frases e textos para melhoria da autoestima de seu namorado, ofereceu seu ombro amigo, amizade, carinho e até o silêncio para que Pedro se animasse e a procurasse. Dia seguinte ao envio dessa mensagem, visualizou essas palavras em seu WhatsApp: Clarice, você é muito especial para mim, uma página escrita em minha vida que borracha nenhuma jamais irá pagar. Gosto muito de você. Aguarde-me, está tudo se resolvendo, logo iremos nos encontrar. Beijo! Pedro. Tempo passando... Não cumpriu o prometido. Silêncio total. Quanta decepção!!! Seu coração amargurado se apertava e ela sofria em silêncio, já não partilhava com ninguém sua dor. Ligou-me um dia chorando muito, mas eu viajava a trabalho. Tentei acalmá-la de longe, mas ela carecia de um abraço amigo. Disse-lhe: assim que retornar nos encontraremos. Foi quando me contou sua história. Em um final da tarde foi ao shopping passear, espairecer um pouco. Coração machucado, triste, decepcionada! Resolve fazer um lanche e de repente, uma grande palpitação, uma quase morte, quando viu passar ao seu lado, Pedro, de mãos dadas com uma linda mulher! Saiu dali rápido, entrou em seu carro e foi para casa chorando aquele choro doído que só quem passou por algo semelhante sabe como é...

Cláudia Coêlho
Enviado por Cláudia Coêlho em 21/10/2017
Reeditado em 21/08/2022
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