O SONHO DA INDEPENDÊNCIA PESSOAL

Em muitas coisas de natureza comportamental, mudou a sociedade em mais de meio século. Acho difícil saber se tais modificações vieram para ficar. Por exemplo, quando eu tinha vinte anos, a maioridade era só aos 21 anos. Antes disto, você era relativamente capaz e necessitava da assistência dos pais para uma série de atos da vida civil. Aos 18, você só atingia a maioridade penal. Hoje, é possível votar a partir dos 16 anos e aos 18 adquire-se a capacidade civil plena. Quando fui para Europa, em 1967, com certa resistência dos pais, eu providenciei uma escritura de EMANCIPAÇÃO no Tabelionato, a que levei o velho para assinar, pois como viajei com passagem só de ida e poucos dólares no bolso, minha estada por lá poderia redundar em muita coisa, estudo, trabalho, inclusive residência definitiva. Foi há meio século e eu estava convicto de que estava em uma idade em que deveria buscar o meu caminho, ao custo que fosse. A sociedade moderna, tecnológica, pós-industrial, tão rica em informações e facilidades, pariu gerações com aspirações aparentemente diversas. Talvez os anseios nem sejam assim tão diferentes, mas a motivação para realizá-los ficou talvez mais anêmica, mais preguiçosa, ou mais difícil, não sei ao certo. Estou, é claro, falando de classe média brasileira, em geral. Ninguém é obrigado a sacrificar-se ou a forçar a barra, mas o SONHO de fazer o próprio caminho, mesmo com a ajuda importante dos parentes, parece que não empolga tanto os que têm vinte anos de idade. Ou estou enganado?