Fotografia antiga

Outro dia comentei sobre um texto de um amigo meu, acerca de musicas antigas, e nesta crônica especificamente o amigo  “falava” da beleza de “A namorada que sonhei” de Nilton Cezar.
Antes de desenrolar minhas palavras convém pra melhor compreensão de quem lê que eu apresente minha interlocutora Natacha, 17 anos, aprendiz de recepcionista no meu local de trabalho atual, e pelos 03 anos anteriores.
Pois bem, não seria uma volta ao mesmo assunto, mas merece algumas palavras esta minha passagem, e felizmente a correlação com a crônica de Joel é inevitável, com algumas variantes eu diria.
O artista da minha crônica não é Nilton Cezar, e sim Jim Capaldi, e também a musica é outra, mas de igual teor “Brega”, segundo minha interlocutora a quem perguntei sobre se conhecia tal musica e letra.
Não me ative em questionar se fiz a pergunta certa ou não, pois da maneira que me foi dada a resposta tanto fazia, mas observem a minha pergunta: Você conhece esta música? E coloquei pra rodar Old Photograph - Jim Capaldi, em minha opinião uma das mais belas canções que o ser humano já fez.
Bem, a resposta foi a seguinte: O senhor deve estar com Alzheimer de tão velho...
Não adiantaria ter feito a pergunta assim... Você conhece esta musica? E pusesse pra rodar “Casinha branca” Que diz:...Eu queria ter na vida simplesmente.
Um lugar de mato verde... E ai por diante, também bela, em idioma português e exatamente a mesma canção de Jim Capaldi.
Longe de testar os conhecimentos lingüísticos da minha interlocutora, queria na verdade que ela ouvisse a música sem se ater a letra, a minha intenção era tão somente ver se ela poderia ver na musica ouvida, relação com a música “Casinha Branca” já que tem na verdade a mesma musica, porém de letras diferentes.
A beleza que eu vejo na canção, eu vejo em muitas canções atuais e na verdade não me surpreendi com esta resposta, por razões evidentes:
1º - Gosto realmente não se discute.
2º - Pela idade da minha interlocutora, era mais ou menos claro que ela não iria gostar da musica e muito menos saber de que tempo é a musica, mas reforçada ficou a minha impressão de que algo deve existir de bom nos raps, funks e alguns outros ritmos atuais, porque senão qual a finalidade dessa idolatria a estes ritmos a ponto de se faltar com respeito a simples indagações sobre o que nunca deixou de ser romântico, neste caso, músicas.
Tenho minhas preferências musicais antigas e modernas e a visão que eu tenho sobre isso, incluem sentimentos como nostalgia, saudade e não o simples ouvir musica para ficar na moda, mascarando uma falta de opinião própria explícita e convenhamos, não vem ao caso comentar.
A música que gente da minha idade ouve hoje, com certeza será ouvida amanhã, assim como ontem foi ouvida, porque com certeza há romantismo neste coração e ao contrário do que pensa minha jovem interlocutora, não tenho Alzheimer, mesmo porque o primeiro sintoma de Alzheimer é a falta de memória, e a pergunta, se fosse bem analisada, jamais teria gerado tal resposta, porque sim, refere-se a uma musica antiga, mas que muita gente ouve e gosta ainda hoje, com ou sem Alzheimer, basta ter poesia na alma, e um mínimo de açucar no coração.
Por outro lado seria melhor ser um doente de Alzheimer aos 50 e ter algo bom do passado pra lembrar, que curtir raps, funks e baladas estranhas e nunca ter a poesia de um Jim Capaldi ou de um Nilton Cezar, para murmurar no ouvido do namorado(a), e ver passar seus breves e incertos momentos da vida, amargando a condição de cópia de outro ser humano em gostos e opiniões.
Boas partes das mazelas da sociedade provem de mentes que não buscam enriquecer sua parte espiritual, que vê na brevidade do momento que vive tudo o que a vida lhes pode dar, isolando-se da possibilidade de enriquecer, seus conhecimentos, sentimentos, para viver na singela mediocridade de ignorar que muitas pessoas, momentos e legados da musica e poesia, fazem parte do mundo.
Não acredito em “ficar”, e acho que nem um adolescente de 17 anos acredita verdadeiramente.
 Me preocupa que sentimentos básicos estejam sendo taxados de “Bregas”, será que amor aos 17 é por a camisinha e brochar na hora H, e então acabou o amor?Será que há numa mente de 17 algo romântico ou eu errei em ter perguntado a uma pessoa de 17 o que deveria ter perguntado a uma de 50? Não teria graça, levaria uma aula de romantismo com certeza.
Ouçam Old Photograph - Jim Capaldi, no YOU TUBE, e só depois comentem, romantismo não tem idade, se há evidentemente uma predisposição pra reconhecer a beleza onde ela existe.
Após a resposta da minha interlocutora, a olhei e também o belo dia que fazia, preferi o dia de céu azul, e a deixei nos seus 17 anos de uma vida que torço, seja longa.
 A proposito, Old Photograph quer dizer fotografia antiga, e só pode lembrar de coisas antigas quem viveu para lembrar.

Malgaxe
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 27/10/2017
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