MINHA PÁTRIA COMEÇA EM SÃO PAULO

Paulistas, por definição, são todos aqueles que nasceram nas terras banhadas pelo Rio Tietê, circunscritos às fronteiras do Estado de São Paulo. Rio este que muito bem exemplifica o espírito do paulista, posto ser o único rio que não corre para o mar e sim para o interior. Somos herdeiros da tradição Bandeirante. Aqueles homens que a historiografia nacional vende como intrépidos desbravadores, homens de alma inquieta que construíram parte da identidade nacional. Estudos há, no entanto, que classificam os bandeirantes como horda de bandidos escravistas e insaciáveis na busca de riquesas, Quase pré-capitalistas. Parte deles formada por degredados do reino de Portugal, parte por aventureiros com absolutamente nada por perder. Talvez os primeiros brasileiros a tentarem a vida fácil. Fama e fortuna com pouco tempo de trabalho, mesmo que demandando algum sacrifício.

Já nos impingiram diversas inverdades como se fossemos a locomotiva desta imensa nação ou que, um dia, desejamos uma pátria paulista. É verdade que nos idos do final do século XIX houve a chamada revolução liberal em Sorocaba, mas é verdade também que o Senhor Getúlio Dorneles Vargas tratou de espalhar mentiras país afora na primeira grande investida marqueteira que os brasileiros puderam experimentar. Getúlio jamais suportou oposições e, certamente, São Paulo pisou-lhe no calo com a Revolução Constitucionalista de 32. A propaganda getulista transformou nossa sigla MMDC, reveladora dos nomes dos primeiros heróis da Guerra Civil brasileira (Martins, Miragaia, Drausio e Camargo) em Mata Mineiro e Degola Carioca. Pouco depois, nosso ditador resolveu que tinha criado uma animosidade excessiva entre paulistas e cariocas e tentou melhorar a coisa inventando o torneio de futebol entre os dois Estados.

A única verdade, nesta estória toda, é que somos amantes das liberdades democráticas e pouco afeitos à ditadores de plantão. Diversas e importantes contribuições para a história do país tiveram como cenário terras paulistas. Sem desmerecer ou menosprezar as outras regiões, ou suas contribuições, do nosso país de dimensões continentais.

São Paulo, na verdade, é terra de imigrantes de todas as partes do globo terrestre. É assim desde os idos de 1500 e assim continua até hoje. Quantos aqui não chegaram com uma mão na frente e outra atrás. Fosse fugido de guerra em qualquer continente, fosse fugido de qualquer outra coisa, justiça, sêca, fome ou ex-mulher. São Paulo acolhe a todos de braços abertos, mesmo àqueles que não desejam mais do que retornar a sua origem um dia.

São Paulo, por definição, é a terra da liberdade, da diversidade e do amálgama que forma a nação brasileira. Aqui tem Brasil em toda a sua plenitude, com todo o seu caos e a exuberância tropical tão decantada em prosa e verso. Somos o resumo da pátria, com representantes de todas as regiões e com exemplos de todas as magnitudes, em relação ao que tem de bom e de ruim nestas terras. Nossa maior riqueza está justamente nesta cornucópia, que bem poderia ser o simbolo destas terras e desta gente.

Nós, aqui, trabalhamos para que um dia o país inteiro possa ser um pouco como nós. Nós queremos impor a nossa vontade sim, a todas as regiões e a todos os brasileiros. Queremos educação que preste, saúde saudável, pleno emprego e distribuição igualitária de renda. Queremos políticos menos corruptos, posto que quere-los honestos beira o delírio. Queremos o Estado voltado para o bem estar da população. Queremos a manutenção e o aprimoramento das liberdades democráticas e a valorização das culturas regionais, do folclore e das raízes populares. Maracatú, Bumba meu Boi e Reisado, sem fome é melhor e mais bonito. Queremos cultuar a diversidade de pensamento e a liberdade de expressão. Queremos a turma do Centro de Tradições Gauchas assistindo e participando do carnaval. Queremos espalhar o vírus da solidariedade e do progresso nem que para isso tenhamos que combater feudos retrógrados e coronéis entrincheirados. Queremos um Judiciário que funcione, menos lento e mais eficaz. Queremos um país melhor, sempre quisemos e não vamos abrir mão desse querer.