No acto de criar, poeta e sua obra, quem cria quem?
(pequeno ensaio de um ensaio maior, a fazer)
Não nego que, no e durante o processo de criação, um egoísmo inusitado
tome proporções de cidade sitiada, à qual deve-se socorrer com o isolamento
mais radical que eu conheço, onde só ao poeta e sua palavra cabe permissão.
É certo também que, embora julgue em contrário, não é esta a autoridade,
a ditar as regras do jogo, por mais que seja ele (poeta) possuidor de um vocabulário ostensivo,
ou velho conhecido dos meandros da arte de criar. E eis o porquê: tendo alguns
poetas com a obra, desenvolvido uma sistematização, que os poderá levar,
durante o acto da criação, a ser por norma uma sua auto critica, regedores
acérrimos do verbo, também não é menos verdade que, se o fazem
ou quando o fazem, fazem-no durante o processo, tal a mecânica adquirida com o tempo,
ousando interferência no que deveria nascer para ser, viver e logo morrer.
Mas desenganem-se – ó blasfemadores – que o domínio há-de ser sempre
dessa coisa tão concreta e indefinida, chamada poesia.
Jorge Humberto
(28/12/2003)