Campos de arroz

Houvera um tempo entre guerras de reinos, mortes de reis e desprezo entre os homens. Tempo este em que fizera crescer uma linda flor púrpura nos campos dourados das bandas do leste. Tal flor jamais fora tocada, teu perfume não percebido e tua existência não fazia sentido.

Era feio e frio, castigado entre os homens e ferido de Deus. Tua chaga pendia no peito, e já pousava o manto da morte sobre sua cabeça quando adentrou os campos dourados. Guerreiro que estava, e orgulhoso que era, fez crescer sobre si o paraíso que vislumbrara como se fosse teu. Jogou-se na relva amassando-a, desfazendo milênios de histórias e deformando a sua própria. A guerra havia acabado, porém onde estaria o prêmio não alcançado? Avistara Púrpura e por ela se apaixonou. Jurou-lhe amor eterno, amor eterno amor. A pequena recatada só fazia balançar, pra lá e pra cá, para que se importar com o belo cavaleiro. Queria o cavalheiro, este sim a merecia.

E os dias foram passando, a agonia instalou-se, e a golpes de paixão rubra, Púrpura foi arrancada.

Levada além dos campos, tudo era novidade. Mas com o passar do tempo veio então dona saudade.

– Dá-me a púrpura de volta? disse o aperto no peito e a ansiedade, com olhos aviltados de tanta piedade.

– Nunca, nunca! – disse ele abusando da própria sorte.

– Terei então que evocar, minha irmã, a dona Morte.

Deslumbrante campo áureo, negro negro como o veludo, o cavalo corre ao longe, passarinho fica mudo. E sem nada falar, como quem não dá explicação, tomou a vida da púrpura diante de tua mão.

– Arrancaste meu amor! Dilacera o meu coração! Malvada, malvada, maldita sangrenta! Amaldiçoo-te desde então.

Com o olhar bem penetrante, abriu a boca como quem quisera emitir algum som:

– Tu amaste a ti próprio, apenas! Tenho pena de ti humano que lutou com tanto fervor. Arrancou ao invés de regar, isso sim é falta de amor.

E retirando-se como uma dama perene, foi embora deixado-lhe uma semente.

Semeou, cultivou e brotou.

– Agora escolhe guerreiro! – sussurrou em seus ouvidos os lábios da paixão tão quentes como o vento do verão.

– Não!