UM ARGUMENTO CONTRA A OPINIÃO
 
      Manifestar-se com posicionamento a respeito de algum assunto é inerente aos seres humanos e direito de todos, segundo a Constituição. O que pouco se sabe é sobre que postura assumir diante de algo. Isso porque hoje se vive em uma geração de muitas opiniões, e muito se fala em opinião sem fundamento. As pessoas têm grande necessidade de falar e discursar, mas de ouvir e de ler não. O que se encontra frente a elas é um grande abismo, o qual, na tomada de decisões, pode fazer com que caiam e tenham grande dificuldade de se reerguer. É mais ou menos uma metáfora do beber muito e pagar de ridículo na festa da empresa.
                Nesse jogo de oposições, temos
argumentos e opiniões. É preciso deixar claro que opinar nada mais é que esboçar juízo de valor a respeito de algum assunto. É dizer que achou legal o posicionamento de um colega no projeto porque sim, pela parceria; é dizer que achou uma obra literária interessante porque sim, porque gostou dela, ou até mesmo porque chorou de emoção; é dizer que gosta de determinado político porque sim, porque acha sua publicidade bacana. Diferente de dizer que concorda ou não com a atitude do colega no projeto, conhecendo as determinações legais da empresa/escola quanto à viabilidade da produção científica; de argumentar sobre uma obra literária, frente as suas etapas constituintes, em que talvez o clímax não tenha encaminhado muito bem o enredo para o desfecho; de defender tal político porque ele respeita os direitos humanos.
     Nesses simples exemplos, o que se pode notar são críticas alicerçadas versus críticas sem embasamento. De um lado, ficam os argumentos, ou seja, aquilo que se pode contestar e pôr em provas. De outro, vêm as opiniões, aquilo que se emite por mero juízo de valor sobre algo. Ambos têm seu lado positivo e negativo, no entanto precisam ser bem empregados, a depender do contexto, para evitar aquilo que se chamou de abismo, no início do texto.
     E é preciso comentar sobre isso porque muitos querem ganhar discussões manuseando as palavras que trazem na ponta da língua. Ora, se se quer isso, precisa-se munir de conhecimento, arma a que, infelizmente, poucos têm acesso, em geral por preguiça, ou porque não querem. Não obstante, claro, não se deve condenar opiniões, porque volta e meia elas são emitidas, uma vez que o mundo é repleto de impressões sensoriais. Mas isso não deve ser argumento de defesa de jeito algum, porque opinião não é argumento; é ponto de vista, subjetividade universal.
Um argumento nunca desampara aqueles que dele fazem uso, uma vez que conhecimento de causa é indiscutível, em vista da sabedoria científica. O ponto de vista, por sua vez, além de não dar credibilidade aos seus usuários, deixa-os também à mercê de julgamentos posteriores daqueles que detêm o saber.
     Prova disso é emitir ponto de vista, sem pensar nos porquês, o que se pode constatar quando rebatem: “Mas é a minha opinião!”. Geralmente, o assunto se dá por encerrado, posto que é nesse ponto em que empirismo e cientificismo não se encontram. Prova de que tal “rebate” carece de subsídio torna-se evidente aí, uma vez que esse enunciado não se torna suficiente para determinar caminhos produtivos para destinos edificantes. Em vista disso, é preciso que se faça uma reflexão do que somos e o que produzimos como linguagem, pois, se o homem se define pela língua que utiliza como ferramenta de comunicação diária, o que o concebe como cidadão é a maneira como vai vincular o discurso à bagagem da qual está munido.