Quem sai por vilão?
 
                É no mínimo plausível para muitos encontrarem um meio termo para não ganhar a fama dos antagonistas, já que almejam estar na fila de espera para serem os bonzinhos. Se é mais fácil, não há porque pestanejar, afinal, mais vale ser salame do que perder a boquinha no emprego; mais vale ficar quietinho numa conversa entre amigos do que dar a cara à tapa e ganhar alguns inimigos. Obviamente, algumas vezes, é até melhor evitar mesmo, mas fazer disso um estilo de vida é um tanto que sugestivo, para não dizer pernicioso.
                O fato é que muitos querem ganhar sua credibilidade se pondo no centro, enquanto os outros lhes põem no alto do Monte Olimpo por não se declararem como quem gosta de se posicionar, já que assim eles não ficam expostos na vitrine e não incomodam ninguém. O sapato do brique ainda é bom porque é humilde e está no seu cantinho, sem ser visado, mas não é nas grandes lojas que ele se encontra no momento. Se estivesse, não iriam ou não poderiam comprá-lo, e sim, desejá-lo, invejá-lo, a exemplo de alguém que o admira de longe, sem talvez poder perto dele chegar. E se sapatos simples recaíram como alusão a pessoas baratas, acredita-se que não necessariamente as entrelinhas deste texto tenham desejado ser sugestivas a tal ponto...
                Mas o estranho é a questão de tal neutralidade, uma vez que, por exemplo, se aprende em Filosofia a ideia de que ela não existe. Que tipo de raciocínio há em não achar estranho alguém que não se posiciona nos assuntos, sendo que, intrinsecamente, pende mais para um lado ou para outro? Exemplo disso são os reality shows, em que sempre tem o bonzinho que não se envolve nas brigas e sempre há aqueles que o desejam como finalista.
                 O que se coloca aqui é que quem perde a vez é aquele que fala, que opina, que debate, que rebate, que se posiciona... Que não sai de baixo daqueles que querem ficar por cima. Ganha a vez quem sai de baixo opinando não falar, nem opinar, nem debater, muito menos rebater e se posicionar, porque tem coisas que “Não vale a pena se estressar”, porque “Deixa assim, que quem vai notar que errou é ELE”. Se é ELE, quem, portanto, sai por vilão?
             É aquele que alguém acha prepotente e arrogante, ainda mais quando se mune do conhecimento para montar bases sob si. É aquele que se joga nas redes sociais e toma um partido nas discussões. É aquele que debate quando não encontra coerência no argumento do patrão.  É aquele que, ainda que tenha apreço pelo amigo, dá um tapinha em suas costas e diz “Olha, as coisas não são bem por aí...”. O bonzinho quer apenas o bônus, e quem sabe se realmente ele não seja certo, uma vez que se priva de se expor para que não haja oposições e conflitos?
                   Homero conta uma passagem na Ilíada, em que Aquiles tem uma decisão a fazer: ser um notável guerreiro e morrer cedo ou ter uma vida tranquila e morrer velho, mas sem notoriedade. Pode-se fazer nessa antítese uma metáfora do que se está dizendo no texto e, ao mesmo tempo, uma reflexão.  É melhor se indispor ou não ficar na linha de frente? Sugere-se que quem sai ganhando é aquele que não se mostra, e realmente muitos dele gostam e o tomam para si como fonte de inspiração. Mas, por outro lado, existe aquele impasse, porque, fazendo referência ainda a Homero, como diz o ditado, “Quem não é visto não é lembrado”.
                    Não basta monologar e ficar entre o ser ou não ser. Atitudes são importantes, e sim, fica a mercê tanto o centro quanto o extremo. Ainda que desse extremo sejam poucos os que queiram sair como vilões aos olhos de outrem, é necessário se fazer da essência e não apenas se manter de aparências, uma vez que o bonzinho nem sempre o é.