NA JANELA.... AO LADO

NA JANELA AO LADO

Estive pensando em como iria desenvolver a palestra para a turma sobre o valor do voto nestas eleições, tarefa esta solicitada pela direção por causa de minha capacidade de falar e convencer, por coincidência também esta era a tarefa do dia seguinte em frente à Assembléia Geral da AMAJOSA, convocado que fui para esclarecer porque o voto seria útil a nossa comunidade, de repente deparou-me com uma visão estonteante: uma linda morena desfilava bamboleando em uma calça preta justa, cordões pendurados balançavam ao ritmo de seus passos sensuais, fitei curioso e extasiado àquela figura na calçada. Ela andava, eu passava olhando-a pela janela do coletivo, quando algo me cutucou, me virei pensando em algum amigo que inadvertidamente estaria ao meu lado e que partilhava de meu deslumbramento, qual o que, me deparei com a visão mais linda que jamais vi, lindos olhos castanhos me fitavam zombeteiros e se desviaram para uma pequena revista no colo, não sei como, aquele anjo pediu minha atenção... Fiquei paralisado.

Tentei raciocinar, racionalizar, mas nem pensando eu estava mais, estava voando dentro do ônibus, tentei articular uma palavra, sem sucesso, imaginei somente se aquilo acontecia com as outras pessoas, porque eu ficara mudo imaginando com que cara de bobo não estaria!

Eu, que segundos atrás procurava no “Aurélio”, em minha mente, palavras eloqüentes para convencer os meus semelhantes que minha postura, vontade e que minhas idéias seriam as melhores.

Eu tentaria este feito ainda hoje, porém estava nocauteado.

Creio que, minha longa jornada associativista e a falta de contato com os preâmbulos românticos, me fizeram endurecer, não tenho mais pique, estou sem espírito, sem romantismo. Sem jeito desviei o olhar para a Janela, e vi a paisagem urbana a correr... Olhando para trás, observei casais enamorados que iam ficando pelo caminho, vi as lojas coloridas virarem borrões, igrejas permanentes só na sua fé, pude ver o povo correndo me ultrapassarem em sua pressa e seguir adiante, propagandas em Outdoor que passavam rapidamente diante de meus olhos, e eu ia me esquecendo de tudo, fui indo, pela janela tudo foi passando e passando, até que chegou o ponto em ela desceu.

As paralelas se encontram um dia, passam e vão embora.

Eu sigo viagem, só que agora com a sensação de que perdi tempo demais tentando alcançar o que estava passando pela janela, nunca prestei atenção ao passageiro sentado lado, não estou mais viajando, viajei.