AH, QUE SAUDADE QUE DÁ!

        Faz, já, algum tempo que digo para quem quiser ouvir: minha vida se resume em esperar pelos próximos capítulos das novelas. Quem escuta tem a impressão de que é brincadeira, e até pode ser, porém no fundo, bem lá no fundo existe um tom de verdade. Atualmente o meu cotidiano é um tédio mortal, e não há nada a fazer para modificá-lo.
         A bem dizer não tenho distrações, a menos que se considere como tal fazer a feira nos supermercados ou ir a bancos pagar contas. Problemas familiares não permitem que eu me afaste de casa por longos períodos, e como não posso fugir a essas obrigações, nem delegá-las a terceiros, o jeito é encarar o que me está destinado e ir levando. Até mesmo o sonho de ir, algum dia, admirar o teto da Capela Sistina parece cada vez mais distante.
          Por essa razão é que afirmo: vivo minhas emoções através dos personagens das novelas. Brincadeiras à parte, não sou muito chegada a programas de TV e falta-me, também, a paciência necessária para ficar sentada horas e horas, sem fazer nada, olhando o que acontece na tela. Mas, agora, fico ali, de olho pregado, sem piscar, totalmente absorvida nas novelas das 7 e das 8. E querem saber por quê? Por causa dos lugares onde a trama está situada. Lugares que estão na minha lembrança e fazem o coração bater mais rápido. Os enredos não são muito dignos de aplausos, e embora seja sempre um grande prazer ver as atuações do Nanini e do Diogo, o que me prende mesmo são as "locações" que aparecem e trazem de volta gratas recordações.
           Ainda no capítulo de ontem (21/4) a Eliane Girardini andava pela Praia Vermelha de mãos dadas com o namorado e pedia-lhe, apontando par ao Pão de Açucar, que a levasse lá em cima. Mais tarde, na outra novela, Eva Todor saia para dar uma volta no Largo do Machado e terminava indo parar no Palácio do Catete, distância um tanto excessiva para uma senhora daquela idade e, ainda mais, sem os trajes adequados.
            Assim é que a visão desses locais abala meu pobre coração velho e cansado, porque essas são as minhas praias, isto é, os lugares que me falam mais de perto, e onde desfrutei a minha meninice de garota sapeca levada da breca: Urca, Ponte dos Suspiros, Praia Vermelha, Pão de Açucar, Botafogo, Flamengo, Catete, Largo do Machado, Laranjeiras...
            Tanto tempo passou desde que andei por essas paragens... Exatamente 50 anos. Mas tudo está tão presente na memória que posso reviver situações e detalhes como se tivessem acontecido ontem.  E isso é que dá uma saudade danada. Não exatamente saudade dos lugares, mas uma saudade enorme de mim mesma, uma saudade desse tempo em que eu era feliz e nem sabia.

                                          abril-1999