Lembranças
Quando leio algo interessante me incorporo à história como se a estivesse vivendo. Tento me colocar no lugar dos personagens para sentir o que sentem, enxergar o que enxergam, ouvir o que ouvem. Se isso é bom ou ruim, não sei, mas sempre faço isso.
Incorporei-me em Ford Perfect e Arthur Dent enquanto lia O Guia do Mochileiro das Galáxias, sou um apaixonado por Douglas Adams.
Costumo trocar leituras com amigos, onde cada um avalia a escrita do outro. Dias atrás recebi o texto de uma amiga que me levou longe, longe, mais precisamente a meu tempo de ginásio. Faz algum tempo já, confesso, mas algumas passagens da vida a gente nunca esquece.
O texto dela falava da paixão de aluno por professor.
Enquanto lia algumas gavetinhas do meu cérebro foram se abrindo e as lembranças afloraram. Isso acontece de vez em quando e essas lembranças voltam como se tivessem ocorrido ontem.
No meu tempo de ginásio tínhamos aula de francês. Ai, ai. Era apaixonado pela professora. Não sei por que é assim, só sei que é assim com professoras de francês. Pergunte a alguém da minha idade se lembra da professora de francês. A resposta será um “SIM” estrondoso, pelo menos se perguntar para pessoas do sexo masculino e longe das esposas ou namoradas.
Naquele tempo fazíamos o possível para cabular aula. Dor de barriga, dor de cabeça, ataques súbitos eram comuns. Quando tudo falhava nos reuníamos e arquitetávamos planos mirabolantes onde, eventualmente um de nós era sacrificado em prol dos demais.
Mas, ninguém cabulava a aula de Francês.
Não lembro o nome da professora, mas sempre usava saia curta, blusa decotada e um avental branco tampando tudo, o que nos deixava ainda mais curiosos.
Esse avental, confesso, arrancava a dentadas logo no início da aula e pensamentos libidinosos passeavam pela minha cabeça todo o tempo. Na hora do lanche nos reuníamos.
- Viu o tornozelo dela? – exclamava um na hora do lanche. – Demais!
- Cara eu vi o sutiã! – dizia outro.
- Ohhhh!
Essa língua, a francesa e não a da professora, devia ser proibida para jovens.
Aquele "Je" e o “parlais” do “Je parlais français?” – traduzindo para os menos letrados em francês fica mais ou menos assim: “Jê parrlê Frrancê?” Tente falar isso sem fazer biquinho! Ai, ai, e ela fazia um biquinho como ninguém.
Nunca vou esquecer o dia em que ela, complacente e de forma carinhosa, acariciou meu rosto após a chamada oral onde devo ter errado tudo. Devo ter ficado vermelho como um pimentão.
Na hora do lanche fui a atenção de todos. Queriam saber os detalhes, tintim por tintim. Não sei como conseguia, mas a hora do lanche era pouco tempo para tanto que tinha para falar.
Pior era o que acontecia em casa depois da aula. Perdi a conta das broncas que recebi da minha mãe:
- Sai desse banheiro menino. O que é que tá acontecendo aí?