Visão do alto
Visão do alto
Deitado em uma esteira, fora do meu barraco, contemplo o mundo de um ângulo completamente diferente. Bem acima, uma pequena nuvem flutua no céu azul pontilhado de urubus. De quando em quando, minha mente vai registrando os acontecimentos e lero-leros das pessoas que passam pelo estreito caminho.
-Olha a cocada, quentinha da hora!
-Quer comprar chinelo aí moço?
-Puxa, você viu o meu time ontem? Aquela cabeçada foi de arrasar!
Fico pensando como pode ser tão confusa a vida da gente... Em cada cabeça um pensamento, uma preocupação, a vaidade tola e esquisita.
Continuo a registrar: ora é o garoto que passa falando palavrões, ora os rapazes ou as garotas comentando as últimas conquistas amorosas. Da minha esteira tudo escuto oculto pela folhagem da cerca viva. É a criança que chora, é a mulher xingando... Ergo a cabeça, lá em baixo a cidade tão estranha... Será que lá a vida é diferente?
Puro engano, a vida é a mesma, apenas rabiscada com um pouco de luxo ou de extravagâncias. Embora superior financeira ou intelectualmente, segue a mesma trilha do menos privilegiado, à espera de um mundo melhor, impregnado com o mesmo espírito de vaidade, egoísmo vingança, vícios e alucinações.
Neste mundo tudo passa em ritmo acelerado, só a compreensão humana ainda se arrasta sobre a terra.
Gilson Faustino Maia