Aprender Idiomas

O que eu mais curto ao aprender qualquer outro idioma é a oportunidade de entender a vida de outro jeito. A maneira de falar de um povo, os conceitos que utiliza, a ordem em que expõe as ideias… tudo isso revela uma forma diferente de pensar. Creio que é saudável para nossas mentes que os pais e os colégios nos oportunizem aprender outros idiomas desde a infância. Ficamos expostos a uma diversidade de modos de ver o mundo que potencializa nossa capacidade de elaborar hipóteses e propor alternativas “fora da caixa”.

Quando aprendemos línguas latinas, que são as mais parecidas com o nosso português, um primeiro obstáculo é não ser enganados pelos falsos cognatos. E outro é ressonorizar algumas letrinhas que já conhecíamos há tanto tempo no conforto da nossa língua-mãe. O “r” francês ou a “j” espanhola, por exemplo. E os casos e declinações do latim, que aflição!, para que tanta variedade? :-) Sem falar dos gêneros arbitrários dos substantivos e suas loucas regras de concordância. E nem mencionei os nossos gauchês, mineirês, carioquês.

Para a pronúncia das línguas eslavas, com sua variedade de “chiados”, haja fonoaudiologia! Se tentamos os idiomas anglo-saxônicos, nossos problemas aumentam: as raízes das palavras são todas diferentes, temos que enrolar a língua no inglês, e precisamos de fôlego nas maxipalavras alemãs. Em alemão também, a ordem das palavras na frase pode soar como uma fala do mestre Yoda... e as vogais parecem ter sido esquecidas no churrasco.:-P

Ao arriscarmos idiomas que utilizam um alfabeto diferente do nosso, creio que nos sentimos como crianças sendo alfabetizadas. Que maravilhoso perceber que recomeçamos todo o incrível processo de aprender a escrever as letras, “literalmente”. :-) Ao aprender russo, árabe, grego, voltamos ao caderno de caligrafia, como iniciantes que não deixamos de ser. Lembro a história em que o aprendiz rejeita um livro dizendo que “Non è scritto! Non sono lettere... Sembrano vermi, serpentelli, caccole di mosche”, e o mestre: “Ah, è arabo.”

E os idiomas logográficos, então, que reviravolta no cérebro provocam! :-) A estrutura gramatical que aprendemos e que nos atendeu tão prestativamente para entender idiomas ocidentais já deixa de funcionar. Temos aqui o desafio de readestrar o cérebro - em seus dois hemisférios - para captar o modo de expressar-se dos chineses, japoneses, coreanos. Talvez esse seja o modo mais avançado de comunicação escrita - ou, no caso, desenhada.

Conhecendo outro idioma, também aprendemos um pouco de outra cultura. Por exemplo, os ditados populares de cada povo compactam uma baita dose da tal “sabedoria empírica” dos antigos. Eles carregam parte da tradição oral e refletem algo da mentalidade das pessoas. Acho curioso que um ou outro dito seja comum a povos distantes. “Steter Tropfen höhlt den Stein”, “Ama dare ishi wo ugatsu”, “Goutte à goutte, l'eau creuse la pierre” e o nosso “Água mole em pedra dura...”. O valor à persistência parece universal.

E a persistência no aprendizado de línguas nos possibilita ir captando e conectando palavras e expressões de diferentes idiomas para cada conceito. Começamos a entender (kennen lernen) que as ideias podem ser entendidas por outros povos de outra forma. Creio que é isso que nos permite pensar a vida de outro jeito - como dizem, “outside the box”.