SEU WALDEMAR

SEU WALDEMAR "FARTA FORGO"

(Almir Morisson)

Waldemar é o nome do pai do Gervásio. Nascido no interior do Pará, mascate na juventude neste mesmo interior, ia de barco pelos igarapés da vida, vendendo de tudo, pescando e caçando para sobreviver e para o sustento da família, de cujos filhos conseguiu fazer vários doutores, com Ph.D. e tudo!

O Gervásio sempre quis fazer uma música em homenagem ao seu Waldemar. Um dia conseguiu chegar no que queria. A melodia estava pronta, mas a letra ... , a letra que era o nó. Como nossa parceria já estava bem entrosada, chegou ele e incumbiu-me da árdua missão de traduzir, em uma letra para sua música, a história de seu pai. Relatou-me minuciosamente o que seu pai fazia e como fazia, e no dia que veio a inspiração, saiu isso:

SEU WALDEMAR (FARTA FORGO)

(Gervásio Cavalcante e Almir Morisson)

Rema caboclo valente

Desliza o casquinho

Sem medo de Iara

Piranha ou Mãe d'água

Nas águas tranquilas

Dos igarapés

Leva na mala de marupá

Rede, cheiro e roupa pra trocar

Deixa que boto protege

Tua montaria

Não deixa boiúna

Nem onça pintada

Nem no teu caminho

Cruzar jacaré

Rápido na festa quer chegar

Pra virar três dias sem parar

Leva teu filho pra caça

Põe a lamparina

Amarrada na testa

Se caça é alimento

Tu tens amizade

Do Mapinguari

Rede lá no rio vai lancear

Pra nunca comida lhe faltar

Bota reparo nos "home"

Que "queima" a floresta

Que "arranca" teu ouro

Que "acaba" com os peixes

Que "mata" teus bichos

Sem ter precisão

Pede ao Curupira pra ajudar

Não deixar floresta se acabar

Cuida pro mercúrio não chegar

Com teu peixe do jantar

Se não vai te envenenar

O falso progresso da nação

Só deixa buraco pelo chão

Drena o sangue roxo

Da fruta que te dá pão

E arranca o palmito

De dentro do coração

25/05/94

Ah!, apenas para esclarecer, a data que aparece no fim das músicas em todas estas crônicas é a data em que foi feita. Como a data de fabricação que aparece no rótulo dos alimentos ou dos remédios. Só que neste caso a validade é por tempo ilimitado.

E o farta forgo? Por que o apelido estranho de farta forgo? É que depois de pronta a música, fui cantar e cadê fôlego para acabar a estrofe? Não dava pra respirar no meio dá frase que ficava esquisito, feio mesmo. O jeito foi treinar, treinar e treinar... até que com muito custo consegui. Assim no sotaque interiorano do Pará o fôlego que faltava pra cantar direito a música virou “farta forgo”. No show "Rio Companhia" onde o Gerva cantava não só sua gente como a sua terra e o rio onde nascera e passara sua infância cantei, na presença do seu Waldemar, aquela homenagem de filho pra pai e eu de gaiato no meio. Ficou bom mas faltava alguma coisa. No "Lua Paraoara" o show seguinte do Gerva, dessa vez já com o Firmo mostrando músicas da dupla, acharam o elo perdido. Chamaram o Madrigal de Belém, sob a regência do maestro Silvério, e o Seu Waldemar ficou u-ma-be-le-za! Assim como ficou a interpretação, pelo mesmo coral, do Pranto Divino, a música de Natal do Firmino. Taí o CD que gravamos ao vivo e as aplaudidíssimas apresentações posteriores do Madrigal que não me deixam mentir.

Ver em:

http://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/77442