O último réveillon de todos

Férias causando mais cansaço - Uma das cruéis ironias do sistema ocidental de produção. A gente vai descansar e termina mais exausto do que antes! No meio do engarrafamento a gente sonha com a bênção de poder voltar à escrivaninha. E no ano novo tudo se acirra. Ao comércio interessa elidir que a passagem de ano é uma mera data, como outra qualquer. Cada réveillon se reveste das potencialidades de um novo apocalipse: Preços extorsivos, produtos escassos, filas enormes e a promessa de uma felicidade inenarravelmente sublime, ainda que fugaz, acessível a qualquer criatura que puder parcelar em doze prestações no cartão de crédito.

O último réveillon de todos é imperdível. Se o pacato cidadão não se esforçar por fazer a reserva com bastante antecipação, depositando um considerável sinal, será crucificado pela sociedade, será cobrado pela sogra, será amaldiçoado pela cruel natureza competitiva do ser humano e até seus filhos o considerarão um completo banana. Para além disso, será condenado a passar a virada do ano num lugar terrível, trevoso e insalubre - que no resto do ano costuma chamar de "lar". O destino turístico mais glamouroso, financiado pela boçalidade de um mercantilismo desfuncional terá a primazia de oferecer, com exclusividade (para quem puder pagar), o brilho do sol e as ondas do mar.

Aviso desde logo aos incautos, quem perder a oportunidade de testemunhar o último réveillon de todos, nunca mais terá outra chance... até o ano seguinte!