O problema do Brasil

O problema do Brasil não é a corrupção. É a malandragem e a manezice. Políticos e empresários que são malandros e o povo que é mané. Malandros que se deixarem de ser malandros acabam virando manés e manés que querem virar malandros. O modelo da colônia que sustenta a coroa continua mesmo uns trocentos anos após a "independência". O malandro leva vantagem sobre o mané; o mané sabe disso e se vinga sendo malandro também. Nem malandros nem manés: seria possível? Que criatura seria essa dentro do nosso cenário cômico? O que faria, o que pensaria? Nos bastidores da batalha entre essas duas criaturas caricatas estão o egoísmo de pensar somente no próprio umbigo e a incapacidade de lutar sem as armas inventadas pelo adversário. No fundo, bem lá no fundo, o egoísmo impera em nossas mentes: queremos para nós, para aqueles poucos que amamos, o que os olhos não veem, o coração não sente. Um político que entrasse lá para revolucionar iria para o além antes de terminar o discurso. Será que tem gente lá que tem consciência? Será que tem gente aqui que realmente é melhor do que alguém que está lá? Me vestindo de político corrupto e sentando no meu gabinete, agora, só consigo ver uma coisa: se eu der muito pra esse povo, ele vai se reproduzir e terei mais e mais adversários. Nós, como povo, não somos tão melhores que os políticos; também somos políticos nas politicagens nossas de cada dia; e políticos também são povo, no patriotismo arraigado de ser humano que precisa "fazer parte" de algo. Entre dois extremos, uma ponte de um a outro. Embaixo da ponte, talvez um meio termo, um ponto de equilíbrio, algo intermediário... Não há mais espaço para todo esse maniqueísmo da eterna batalha do bem contra o mal na nossa modernidade.