Coisas que acontecem ....

Mais uma vez, ali estava ele sentado em seu desconfortável banquinho, debaixo de sua querida arvore, um velho Flamboyant, plantado por ele mesmo há mais de trinta de anos. Como fazia todas as tardes estava ali vendo o movimento da rua, quase horário de pico, pessoas andando de um lado para outro, carros apressadamente passando pelos quebra-molas desgastados e quase destruídos pelo tempo e pela falta de cuidado. De repente um bando de crianças saídas da escola, que era ali perto, vinha andando pela rua, pelo passeio, algumas sozinhas, outras segurando as mãos de suas mães ou talvez irmã mais velhas, gritando, brincando chorando, dando “birra”, cantando, cada uma de um jeito. Aquilo era algo que o intrigava, pois dificilmente se vê irmão mais velho buscar irmãos mais novos na escola, será porquê? Neste momento, ele percebe que havia um papel em sua caixinha do correio, levanta-se e vai até lá, pega o papel e vê que é um aviso de corte no fornecimento de energia, por falta de pagamento, se entristece e pensa, diante de tantas dificuldades, ainda mais está. Mas como o costume, ele não queria perder aquele momento mágico que lhe causava tão bem para ele, era a melhor parte do dia, ver o movimento da rua no entardecer. Bom naquele instante se ouve ao longe o ecoar forte de uma sirene, encerrando o expediente em mais uma fábrica, aquilo fazia com que aquele pedacinho de rua ficasse ainda mais movimentado. Então ele voltou para seu banquinho desconfortável, olhou o tal aviso, apontando que se pagasse R$100,00 (Cem reais), no outro dia sua luz seria cortada. Ele pensou, pago isso a vida inteira, já trabalhei tanto na vida, agora vem uns desafortunados cortarem a minha luz, acho isso uma covardia. Ele tinha o costume de ficar ali até que começasse a escurecer, gostava de ver todo aquele movimento se aquietar e as pessoas se prepararem para dar início a mais uma noite. No horizonte, lá onde o céu encontra com a serra, vislumbrava-se um amarelo alaranjado, sinal de que aquela noite seria fria. De repente, quando já não tinha mais ninguém na rua, ele vê algo estrando sendo levemente tocado pelo vento em sua direção, quando chegou bem pertinho, ele viu era uma cédula de R$100,00 (cem reais). Foi um grande susto, como assim, o que aconteceu, aquele dinheiro ali e justamente o mesmo valor que ele precisava. Sem entender, ele pegou o dinheiro, colocou no bolso da camisa já bem puída pelo tempo e tentou se aclamar, pois por dentro ele estava radiante de alegria. Mas aí, ele viu se aproximando um rapaz, baixa estatura, magrinho, cabelos quase raspados, olhos grandes e de expressão cansada, empurrava uma bicicleta velha e olhava por toda parte parecendo estar procurando algo. Quando se aproximou, o rapaz pediu um copo de agua, então o homem se levantou, pegou o banquinho e entrou em casa. Voltou com o copo de agua e encontrou o rapaz chorando. Ele contou que havia trabalhado muito, descarregando um caminhão de tijolos, outro de areia e depois ainda capinado um lote imenso e havia ganhado R$100,00 (cem reais) e era o dinheiro que ele tinha para comprar o remédio da esposa que sentia muitas dores se não tomasse o medicamento e com o que sobrasse fazer a compra da semana. Nisso o rapazinho perguntou se por acaso, ele não havia visto uma cédula de R$100,00. Momento em que, após um breve sorriso, ele tirou a nota do bolso e entregou o rapaz, que chorando lhe agradeceu muito e foi embora rapidamente. Ele ficou olhando o rapaz sumir la longe na esquina, nesse momento uma pequena lagrima correu de olhos, ele fechou o portão e entrou para dentro de casa.

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 29/11/2017
Código do texto: T6185387
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