Caos

Em meio a tanto caos, não percebi a brisa. Ceguei meus olhos em pontos que marcam o peso de algo que não quero carregar. Fechei as portas para que apenas as paredes me fizessem companhia e fechei as torneiras, pois estou seca de água. Aos poucos, fechei minha alma pois não acreditei mais na vida.

Toda dor, muito além do físico, trazia consigo uma bagagem de outras dores que trancavam cada porta que outrora, ousava fechar. Contra minha própria vontade, me vi presa em uma sala escura, sem perspectiva, sem esperança, sem chão e a cada tentativa de abertura, havia alguém do outro lado dizendo que não.

Precisei de um tempo para entender algumas páginas que a vida escreveu e quem dirá, talvez interpretar corretamente as que ainda virão. Uma frase budista, em meio às minhas leituras incessantes à procura de algumas respostas, dizia “Para entender tudo, é preciso esquecer tudo”. Durante muito tempo repeti essa frase incansavelmente na tentativa de uma interpretação, literária, talvez. Mas foi só quando eu esqueci, que entendi.

Incialmente, essa frase trás o contexto de que o entendimento depende do esquecimento de tudo aquilo que nos foi imposto ao longo da vida: crenças, hábitos, imposições sociais, opiniões que nos forçaram a ter porque disseram ser certo e/ou errado. Entender que todo fluxo não foi criado pelos humanos como foram criados preconceito, ódio e repreensão. Porém sempre vi essa frase com muito mais significado do que diziam ter.

Passo longe de ter experiência de vida para tratar de um assunto que exige moral, porém enxerguei o suficiente para entender que todas as coisas se resumem a aparências e cada lágrima que te corta feito navalha pouco importa àquele que te causou. Liguei o piloto automático e apenas observei de fora tudo aquilo que sempre procurei observar de dentro. E aí eu entendi que a engrenagem só funciona quando você esquece. Esquece as mágoas, esquece as pessoas, esquece os sentimentos. Esquece tudo aquilo que, de passagem, subtraiu e em contrapartida, no custoso hábito de esquecer, esquece, também o que somou.

A quem me vê sorrindo, salienta-se que para sorrir precisei esquecer, até mesmo, quem sou.

Gabrielle Benatti
Enviado por Gabrielle Benatti em 29/11/2017
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