Humilhação.

Não costumo jantar à noite, mas ontem tive muita fome e sai para comer algo, alguns restaurantes estavam abertos, porém com as portas fechadas devido ao frio, resolvi então jantar num restaurante pelas redondezas.

Entrei e me sentei, dentro só havia eu, o dono, sua esposa e um funcionário que estava num escadote limpando uma base de ferro que fazia a volta pelo balcão, também limpava os fios e as lâmpadas, fiquei impressionado com a perfeição daquela limpeza, pois a base de ferro brilhava, os fios e as lâmpadas ficaram sem nenhum grão de poeira, a delicadeza com que ele passava aquele pano com o produto era como se ele tivesse limpando pedras de diamantes, ele olhava atentamente o que já tinha limpado e mais uma vez passava a flanela nos mínimos detalhes para que os patrões ficassem impressionados. A postura que ele tinha desde ao mudar a escada de lugar, ao subir degrau a degrau e a forma como ele baforava aquele produto no pano, o movimento que fazia de vai e vem ao limpar aquelas barras de ferro era como se ele fosse um escravo da perfeição, com a coluna sempre ereta.

O dono do restaurante vem até a minha mesa, faço o pedido e fico à espera, enquanto isso continuo a contemplar todo aquele esforço que o rapaz fazia em busca talvez de um elogio, confesso que eu nunca vi coisa igual em toda a minha vida alguém limpar os lugares que jamais foram limpos em toda a existência daquele estabelecimento, ele afastava os móveis, levantava tudo e limpava por baixo e por cima.

Meu prato chega e na primeira garfada que dou eis que me sai a esposa do dono do restaurante da cozinha como um touro bufando, abre aquelas portas duplas e disse para o rapaz: Isto está muito mal, desce já desse escadote e limpa isso aqui que está um nojo és mesmo um porco!

Humildemente e elegantemente o rapaz desce e ela aos gritos dizia: Desce rápido!

Ele disse: Mas isto está limpo, passava o pano e lhes mostrava que ali já não havia mais sujeira e realmente não havia, mas ela não aceitava, berrou com o rapaz, disse que ele era preguiçoso e que se ele continuasse assim ela iria o demitir.

O rapaz era muito bonito e simpático, logo, ele não tinha obrigação nenhuma de ser simpático porque ele era muito bonito... o dono também começou a brigar com o rapaz dando razão a sua esposa, os dois estavam errados no que fizeram, achei aquilo o fim da picada, pois a coisa mais horrorosa do mundo é gente feia e antipática que era o caso dos donos que tinham a obrigação de serem simpáticos.

Acabei de jantar, fui pagar a conta e como não podia deixar que aquela injustiça continuasse após a minha retirada fiz um elogio ao rapaz com os donos do lado dizendo: "Nunca vi uma limpeza tão perfeita como a sua, sou exatamente assim, gosto de limpar nos mínimos detalhes, pois a limpeza de um local e a simpatia é meio caminho andado para que o cliente se sinta bem, parabéns!"

O rapaz ficou emocionado e os donos continuaram de cara feia sem ao menos agradecer ao funcionário, fiz aquele elogio de propósito, pois detesto injustiças e aquele rapaz deveria estar desfilando nas passarelas de Paris e não sendo empregadinho de gente grossa e mal educada.

#veltosilvanocotidiano

Velto Silva
Enviado por Velto Silva em 07/12/2017
Reeditado em 21/06/2018
Código do texto: T6192438
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