O Impacto

Naquela hora, enxerguei a realidade: não estava no comando, nem ao menos tinham sido minhas as escolhas. Parei, respirei fundo: teria que repensar minha postura a partir dali.

Ainda estava sem saber direito o que sentia: um misto de tudo, sem lágrimas nem dor, de sentimento vazio, mas com o corpo dolorido do impacto emocional. Naquele momento ímpar, percebi realmente do que se trata a vida: uma grande aventura. E ainda não sabia se lamentava o novo conhecimento ou se me mostrava grata. Alias, a partir dali, não sabia de nada. Agora entendia Sócrates com sua célebre frase “Só sei que nada sei”.

Mas... desculpem-me. Perdoem minha entrada abrupta. Primeiro é preciso que eu comece contando daquele dia três de dezembro de 2017. Então, vamos àquele fatídico dia.

Naquele dia, eu tinha uma consulta marcado para entrega de resultado de exame. Sempre fui do tipo preocupada com a saúde, com mania de controlar tudo. Me cuidava, atividades físicas, alimentação saudável, chazinhos de tudo, passeios para desestressar, etc e tal.

Como de costume, levei o resultado do exame ao médico, tudo normal. Havia feio uma bateria de exames (fazia semestralmente, só para garantir controle total).

Meu noivo quisera me deixar na consulta. Não quis. Gostava de fazer, eu mesma, meus caminhos. Amava minha liberdade e independência. Se fosse com ele, ficaria dependendo dos horários dele para chegar. Ele gostava de se atrasar em tudo, diferente de mim, sempre pontual e comprometida com os horários. Considerava o atraso, e o descumprimento de um trato, coisa imperdoável, não importavam os motivos.

Fui sozinha, com meu carro, que, aliás, sempre estava revisado, para evitar surpresas. Cheguei adiantada, como de costume. Na hora agendada, fui atendida. Todos os resultados estavam perfeitos, conforme esperado. Eu planejara ter uma vida longa e saudável, sem grandes ou incontroláveis transtornos, e trabalhara para que isso acontecesse, na alimentação, sono adequado, exercícios qualidade de vida.

No retorno, já indo trabalhar (construíra uma bela e sólida carreira como advogada) cruzei com um carro, que vinha na mão errada, desgovernado, em fuga da polícia, resultante de um assalto há poucos instantes. No calor da situação, ele jogou o carro para o meu lado. Perdi o controle da direção e bati no primeiro poste que me apareceu. Pronto. É tudo de que me lembro daquele momento.

Continua...

Marta Almeida: 07/11/2017