Quando viu o mar....

Quando ele viu o mar pela primeira vez, espantou-se com sua grandiosidade. Esperava encontrar algo muito menor, ou melhor, nem sabia o que esperava encontrar. Aos seu 47 anos, saíra do interior pela primeira vez... Era a primeira vez que chegava ao mar... Era a primeira vez que sentia aquele gosto salgado nos lábios, aquele cheiro mareante.

Não sabia nem por onde começar. Queria se aproximar, mas o medo lhe segurava à beira do calçadão. E pôs-se a observar os banhistas daquele lugar, que chegavam tranqüilamente, organizavam suas sacolas em uma barraca e se aproximavam do mar. Primeiro molhavam os pés, depois iam entrando aos poucos, até o mergulho profundo. Alguns não, especialmente as crianças, desvairados corriam e pulavam de uma só vez na água, batiam os braços e pernas e espirravam água alegremente.

Ele encheu-se de coragem e se aproximou da praia. Bem na beirinha, deixou a água molhar seus pés, e sentia a areia se movendo abaixo de seus dedos. A água estava morna e confortável. Resolveu se aproximar mais, deixar com que a água subisse até seus joelhos. As pontas de seu cumprido bermudão já estavam molhadas. Ele queria mais, água pela cintura não lhe faria mal, pensou. E foi andando, em frente, com dificuldade, sendo empurrado para frente a para trás pelas fracas ondas. Dobrou os joelhos para sentir a água em seu peito coberto pela camiseta. Sentiu uma liberdade que nunca sentira antes, nem nos seus mergulhos no grande rio de sua região. Sentiu-se envolvido, como se estivesse mergulhando nos braços de uma mulher. E ficou ali, por um longo tempo, olhando para o infinito, controlando apenas a profundidade da água, não iria mais fundo do que isso no seu primeiro encontro com o mar.

Virou-se então pela primeira vez desde que entrara na água, e para sua surpresa, não via mais a barraca nem os carros, nem a avenida por onde havia passado. Estava mirando um pomar, cheio de cajueiros e um monte de nada para os dois lados.

Saiu da água mais do que sem graça, e começou a caminhar de volta. Solitário, ia olhando o mar que lhe tinha pregado uma peça e tentando entender o por quê de ter sido carregado para tão longe assim... ele passou o resto da vida jurando que no mar, havia encontrado uma tal mulher que queria lhe levar para outro lugar, que lhe arrastou pela água, mas que ele, com sua força de vontade havia resistido e voltado para a casa de sua amada...

Laboratório de Criações coletivas - Crônicas - TEMA: "quando viu o mar pela primeira vez"

22/08/2007 - 21:12

Sabrina Taury
Enviado por Sabrina Taury em 22/08/2007
Código do texto: T619397
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