O Piano

Os meus padrinhos de batismo era um casal belo e exemplar! Ele primo legítimo de minha mãe, próspero farmacêutico residente na cidade de Crato-CE. Tinham três filhos, lindos, dois rapazes e uma garota. Minha madrinha Leda, sua esposa, era um amor de pessoa, mulher elegante, educada e bondosa. Sempre que iam a nossa cidade nos visitar me levavam um presente. Dentre tantos que me deram, me recordo especialmente de uma linda boneca, em uma caixinha de presente que chamava a atenção de todos. Quando recebi a minha tia, irmã de meu pai, que estava lá em casa, tomou à frente e foi dizendo, que caixinha linda, pegando em suas mãos e fazendo menção de abrir, quando meu padrinho interrompeu dizendo: não! o presente é dela, e quem vai abrir é ela. E assim me maravilhei, abrindo aquela linda caixa que tinha dentro uma boneca de mais ou menos 30 cm, chamando a atenção de todos pela beleza que até então eu não tinha visto em nenhuma outra. Essa boneca esteve comigo por muitos anos, pena que não a conservei até hoje, sem saber realmente o que foi feito daquela obra de arte. Lembro-me que eu, garota, devia estar com 10,11 anos fui passar uns dias de férias na casa de meus padrinhos, uma residência muito bonita que chamava a atenção, em frente à Praça Siqueira Campos em Crato-CE. Na entrada da casa, tinha uma placa de azulejo com o nome do dono da casa. Achava tudo aquilo muito chique! Como se não bastasse, a minha madrinha era professora de piano. Na sala da estar, lá estava aquele piano bonito! E à tardinha, vinham algumas alunas para aprenderem a tocar aquele instrumento tão grandioso e belo. Lembro-me dela dedilhando as teclas e dizendo que iria me ensinar a tocar... Ah, para mim, era um deslumbramento, uma garota, pobre, tímida e magricela, tocar piano! Eu (muito diferente de hoje) era acanhada, tímida, embora sempre interessada na leitura e em adquirir conhecimentos gerais. Quando me via fora de casa, sentia uma saudade enorme de minha mãe, meu pai e irmãos... Na verdade eu não me sentia bem naquele ambiente, confortável, rico e tão diferente de minha realidade. Queria voltar para casa, estar com os meus, sentia uma saudade que chegava a doer e me deixava ofegante! E o que era pra ter sido momentos de férias, alegria, descontração, foi para mim, de tristeza, solidão, saudades, lágrimas... Não me contive, comecei a chorar e disse para meu padrinho que estava com muitas saudades de casa, queria voltar, que me desculpassem mas não queria mais permanecer ali. Eles entenderam. Naquela época tinha o ônibus da Viação Brasília saindo toda tarde para minha cidade. E lá se foi meu padrinho comigo até a rodoviária à procura de alguém conhecido para que me levasse de volta. Encontrou um senhor conhecido dele e de meu pai que fez o favor dizendo que ele não se preocupasse, tão logo chegasse, me entregaria aos meus pais. Eu timidamente pedi a benção ao padrinho e uma alegria enorme invadiu meu coração por saber que estava voltando para casa. E lá se foi embora comigo a oportunidade de ter aprendido a tocar piano. A viagem durou uma eternidade, mas a alegria de voltar ao meu lar doce lar me confortava o coração e aliviava os meus ais.

Cláudia Coêlho
Enviado por Cláudia Coêlho em 10/12/2017
Reeditado em 12/04/2021
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