Liberdade Fingida

Estou cansada de liberdades fingidas. Não quero elogios apenas quando me camuflo de alguém que não sou eu para agradar a outrem. As rotulações de uma sociedade hipócrita me paralisam a ponto de eu chegar a me questionar: será que simplesmente não concordo com as críticas que recebo, ou será que estou me incomodando tanto por concordar, em parte? Eu não sei, e me revolto por não saber, pois a incerteza é contrária a paz interior.

O século da pressa, da expansão da desigualdade e da escassez de empatia, impõe estereótipos nos seres humanos como se estes fossem meros objetos descartáveis. Julgam-te se gostas de usar chinelos ao invés de um tênis sofisticado; julgam-te se gostas de andar de cabelo preso, e não solto e esvoaçante; julgam-te se és uma mulher e não possui no seu vestuário um vestido, um salto; julgam-te se a maquiagem não faz parte de sua predileção; julgam-te se não se comporta e utiliza as peças que estão em tendência segundo a moda. Que liberdade é essa chamada de diversidade? Aonde mora a aceitação do contraste? Perdoem-me, mas não consigo enxergar.

Se os olhares que julgam fossem pelo mesmo um pouco voltados para o seu próprio ser que libera uma ira disfarçada, talvez os atingidos com disparos críticos seriam menos atravessados com a dor de serem crucificados por apresentarem distinção dos demais e simultaneamente por serem o que são, simplesmente por serem o que são. Que paradoxo! Questionar-se por se sentir bem consigo.

Só sabe o valor da liberdade quem já foi aprisionado sem correntes. Só entende o significado de valorização quem observa além das superfícies. Só alcança a realização quem possui a virtude de transformar palavras amargas em combustível para transpor a aridez da existência. Sartre, em uma frase tão irradiante quando o raiar do dia, diz: “Não importa aquilo que fizeram com você, o que importa é o que você faz com o que fizeram com você.” Nutrindo em mim uma verídica constatação: a maior arma para revidar a quem te destrói, é tratar de fazer o oposto. A devolução para incapacidade de aceitar, deve ser a aceitação.

Sinto-me deslocada e sei que escolher a extravagância de ser invisível é um peso ao qual adquiri conscientemente. Pergunto-me até quando os ricos se sentirão superiores aos pobres? Até quando os brancos se sentirão superiores aos negros? Até quando as profissões terão patamares? Até quando o ser humano terá a ousadia de sentir-se o ser atemporal e onipotente ao ponto de ser portador do direito de julgar os indivíduos semelhantes a si mesmo? Até quando o humano será tão frágil e oprimido, tendo por prazer suprimir a essência do outro para sentir-se bem?

Vivo uma liberdade fingida. Vivo fingindo que não sinto, fingindo que sou inabalável e fingindo desconsiderar a estupidez alheia. Mas, apesar dos percalços, o essencial é saber que para além da humildade há um espirito glorioso, inteligível e sensível. E que por trás dos espíritos críticos destrutivos há a invalidez, a inconsistência e a incapacidade de alcançar o que eles mesmos propõem. Os críticos são como fogo ardente, e os criticados como folhagem seca, queimam.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 10/12/2017
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