MEDO DE PERDER ALGUÉM

Havia uns 30 minutos que estava ali, porém, parecia que haviam se passado dias. O cheiro do hospital me entorpecia, as paredes brancas me sufocavam, no entanto estava decidido, que só sairia dali com ela de volta.

Ziguezagueando de balcão em balcão, peregrino em um busca inútil de informações, que moças, com sorrisos de cera e uniformes bem passados, insistiam em me negar. Apenas diziam: “Vá pra casa, descanse um pouco. Assim que tivermos notícias entraremos em contato.” Nunca! Nunca a deixaria ali sozinha, ainda mais por saber, que tinha parte em tudo aquilo que estava acontecendo. Foi um incidente, não tive culpa...

De maneira alguma imaginei que passaria por isso. Parece que as coisas, sempre acontecem com o vizinho ao lado, que jamais batem à nossa porta. Agora estou aqui, sentado em um banco de hospital, enquanto um homem que nem conheço, mas que chamo de “doutor”, tem a vida da pessoa que mais amo em suas mãos.

Se fumasse, acenderia um cigarro. Como não fumo, desembrulho uma bala de hortelã e coloco à boca. Sem paciência a trituro no primeiro instante. O que será que irá acontecer? Tento me lembrar dos momentos bons que tivemos. Do primeiro encontro, na praia, em um dia de muitas nuvens. Do primeiro beijo, que por ela foi roubado. Da primeira vez que me chamou de amor, toda corada de vergonha. Será que ela imaginou que se encontraria nessas condições em algum desses momentos?

Não sei. O que sei, é que era desesperador o seu grito de dor, ao adentrar o hospital. “Venha comigo! Não me deixe!”, é o que ela dizia. Seu grito era alto, dolorido, sentido. Eu tentei entrar, juro que tentei. Não me deixaram, me seguraram e fecharam as portas quando ela passou.

Tenho a impressão de que um nó está preso em minha garganta. Quero chorar. Mas estou muito nervoso para isso. Pego um copo d’água, não bebo nem a metade. Lá fora a noite cai fria e cinza.

Vejo o doutor sair pelo comprido corredor. Imploro por informações. O que ouço, é o que todos dizem: “Estamos fazendo tudo o que deve ser feito, o resto depende de Deus...”. Deus... Há tempos que não falo com Deus. Olho para o relógio pregado na parede que tanto me sufoca, mas sei que não é o relógio que me prende a atenção, sim, o pequeno crucifixo dependurado abaixo dele. Não sei rezar... Mas tento. Peço para que ela volte pra mim segura, que a proteja, que tudo corra bem. Peço perdão por tudo, por esquecê-lo, por... Sinto o quanto rezar é difícil...

Ainda de olhos cerrados, sinto uma mão em meu ombro. É uma enfermeira, bonita, mas com o mesmo sorriso de cera. Pergunto:

- Tem notícias? Algum problema? Posso ir vê-la? Está tudo bem?

- Parabéns papai, seu filho nasceu. É um garotão muito saudável...

E sorrindo fui pra casa, montar o berço de meu filho.