Amor É Casa

Amor É Casa

“O Amor é uma construção.” – afirmam os orientais, com a serena sabedoria que lhes é peculiar. Já Mário Quintana, dando vazão ao pendor que todo poeta tem para revelar, em palavras claras, a profunda complexidade do espírito humano, diz que “Amar é trocar a alma de casa.”.

Pode-se até discordar de Quintana e dos orientais. Todavia, uma coisa é certa.

É consensual a ideia de que o Amor, a levar-se em consideração a natureza da relação vivenciada entre os indivíduos constituintes de um casal, não é um sentimento pronto e acabado, mas, um edifício a ser cuidadosamente construído e mantido por aqueles que desejam habitá-lo.

Desta forma, há que se compreender o momento da conquista como a hora em que se traça o projeto do edifício. Intenções, enclinações e propenções são reveladas. As almas se dispõem ao enlace. Os corpos sentem os efeitos explosivos desta disposição.

O namoro, por sua vez, deve ser entendido como a etapa em que se dá a edificação concreta do que fora projetado no momento da conquista. Firmam-se os alicerces. Levantam-se as paredes. Determinam-se os espaços.

O casamento, ou a simples coabitação, a seu turno, nada mais representa do que o instante em que o casal decide mudar-se em definitivo para o ambiente por ele construído no decorrer do namoro.

Durante a mudança, cada um dos integrantes do casal leva consigo os pertences que amealhou ao longo da vida, aos quais, posteriormente, se juntarão as coisas adquiridas pelos dois em conjunto. Eis a fusão absoluta dos íntimos. Um em dois. Dois em um.

“Mas, uma casa precisa ser mobiliada e organizada!” – dirá, impaciente, o prezado leitor.

É o que se faz no período inicial da coabitação. Mobilia-se a casa. Organizam-se os cômodos. Faz-se do espaço compartilhado um ambiente aconchegante. Dá-se espírito de unidade à vida vivida a dois.

“Mas, depois de mobiliada e organizada, uma casa precisa ser mantida!” – bradará o prezado leitor, ainda mais impaciente.

É o que se faz no decorrer de toda a união. Procedem-se às tarefas diárias de limpeza, arrumação, manutenção e sustentação da casa.

Se surge uma infiltração, apressa-se em corrigí-la. Se se contrai uma dívida, esforça-se por saldá-la. Se um móvel se quebra, ou se desgasta pela ação do tempo, busca-se repará-lo ou substituí-lo. Se a casa ameaça desabar, providenciam-se-lhe as reformas necessárias.

No entanto, há edifícios matrimoniais que, por descuido do casal, ou de um dos seus membros, ruem. Fenômeno que se denomina “divórcio”.

Nestes casos, é fundamental que, tanto o homem, quanto a mulher, varram para fora de si os escombros do edifício desabado e se empenhem na edificação de novos Amores. Afinal, viver só é o mesmo que estar sem teto.

Hebane Lucácius