HISTÓRIA DE NATAL

Quando me lembro dos natais dos meus tempos de guri trago junto uma certa saudade nostálgica da data. Não posso dizer que vivíamos na miséria, de maneira alguma, mas sim que nosso dia a dia era carregado de privações e carências onde a felicidade era medida pela quantidade de dinheiro que nosso pai trazia no bolso no final de um dia de trabalho.

Vivíamos um dia após o outro. Quando tínhamos o suficiente, éramos felizes, outros dias nem tanto, e nos resignávamos com o pouco.

A miséria é sempre mais notada em datas especiais, elas dão margem para comparações, nos remetem a realidade e desnudam a pouca extensão de nossos limites. As desigualdades se tornam mais aparentes, e a verdade fica mais viva do que nunca.

Mas não posso reclamar.

Lembro-me de certo natal em que a vizinhança resolveu reunir todas as crianças da rua numa só casa para que Papai Noel viesse trazer os presentes. Cada mãe levava o presente do seu filho e deixava escondido para ser entregue na hora combinada.

A certa altura entra o bom velhinho com sua barba de algodão Johnson & Johnson, bigode mal colado caindo por sobre a boca, roupa vermelha de TNT e botas Sete Léguas.

O calor de dezembro devia estar sufocando-lhe a alma.

Foram chamando uma a uma, todas as crianças em angustiante expectativa e felicidade incontida na espera de seu presente.

Uns choravam, outros tremiam, a maioria morrendo de medo não queriam se apresentar diante da figura natalina e eram carregados no colo, aos prantos, pelas mães sempre carinhosas como são carinhosas todas as mães.

Recebendo seu presente abriam para que todos pudessem ver. Numa mistura de alegria e desapontamento demonstrava-se no singelo brinquedo ou na peça de roupa barata a realidade de cada um, o pequeno mundo em que vivíamos, mas enfim todos éramos felizes em nossa simplicidade e inocência.

Sem grandes ambições contentávamo-nos com aquilo que ganhávamos.

Na modéstia de uma vida sem luxo , alegrávamos como o mínimo , até por que o muito nos era desconhecido.

O significado de natais assim eu guardo hoje em minha vida. Me ensinaram que os mais importantes presentes, aqueles que guardamos para sempre em nossos corações como tesouros valiosos, não vêm embalados em porta joias luxuosos e caros, de tamanho brilho que acabam por ofuscar nossos olhos, mas sim em delicada embalagem bordada com fios de sentimento e gratidão que somente podem ser vistos pelo coração

Gostaria de poder reencontrar a todos aqueles que compartilharam comigo este momento inesquecível, dar em cada um deles um abraço bem apertado e poder dizer o quanto eles foram importantes em minha vida.

Assim como há dois mil anos o menino Jesus, rodeado pela singeleza da rústica manjedoura, mostrou a toda humanidade o exemplo do despojamento e da humildade eu também vivi naquele Natal simples num bairro pobre de Santa Maria as benções deste mesmo Jesus no exemplo da pureza que modifica e prepara a todos para a vivência de um mundo melhor.

Que possamos abraçar a todos que amamos.

Feliz Natal a todos!