Rapidinhas de Ano Novo

Vocês já pararam para pensar que todas as pessoas que vão morrer ao longo de 2018 ouvirão na virada do ano os votos de um “feliz ano novo”? Por aí já se vê que não adianta desejar muita coisa.

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Tem uma história do Chico Bento em que ele quer ficar acordado para ver a virada do ano. Ele não sabe bem o que vem a ser essa “virada do ano”, imagina que é uma espécie de cometa que faz uma curva. De toda forma, devia ser um negócio muito batuta. A muito custo, ele consegue chegar acordado à meia-noite. Mas aí vem a decepção: o pessoal ficou fazendo tanto barulho que não deu para ver nada.

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Na hora dos fogos, sempre tem algum ônibus que passa, um ônibus que sai do terminal todo dia à meia-noite, e que não muda de horário só porque é o último dia do ano. Às vezes está vazio, às vezes tem um passageiro só. E o motorista não pode parar, não pode ficar contemplando os fogos, não pode brindar com champanhe, ou começa o ano desempregado.

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O velho Humberto Gessinger de guerra já nos dizia nos anos 80 que o último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de janeiro. Só que é mais vazio, no primeiro dia de janeiro sempre mandam um repórter filmar a cidade vazia e dizer que não é assim que ela costuma estar nos outros dias do ano.

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E a Austrália, meu Deus, como é adiantada a Austrália! Mal acordamos no dia 31 quando somos avisados de que já é Ano Novo na Austrália. O dia em que o mundo acabar, começará pela Austrália.

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Disse o Rubem Braga em uma crônica: “Ando meio desconfiado com esse Ano Novo de 1939. Afinal de contas, ele é filho de 1938. Vamos ver se é um pouco mais decente que o pai. Porque o pai –francamente”. Em 1939, iniciou a Segunda Guerra.

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Um bonito espetáculo: toda a multidão que, há poucos dias, ainda celebrava a boa nova trazida pelo nascimento de um menino, agora coloca a sua esperança de redenção no sorteio de uma loteria.

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E sempre haverá alguém para verificar quem foi a primeira criança da cidade, do estado e do país a nascer no ano que acabou de iniciar. Geralmente é alguma menina que leva o nome de Vitória. Não sei se o nascimento nessas circunstâncias significa bons auspícios para a criança. O certo é que nunca mais ela irá virar notícia, pois até hoje não se conhece uma única pessoa famosa que tenha sido a primeira criança a nascer em algum ano, em alguma cidade.

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Sílvio Santos vai morrer em 2018. Os videntes fazem essa previsão há dez anos, no mínimo, às vezes de forma velada, como “um grande comunicador”. E nunca há um jornalista para resgatar as previsões do ano anterior e verificar que nada foi cumprido. Mas um dia ele morre, um dia um vidente acerta.

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Na Dinamarca, quando chega a meia-noite do dia 31, as pessoas costumam quebrar pratos na porta das casas dos seus amigos. Uma grande quantidade de cacos em frente à porta significa que o morador tem muitos amigos. E também que terá um trabalho dos diabos já no dia primeiro para limpar tudo.

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Em toda edição da São Silvestre eu me lembro da narração do Cléber Machado em 1997. Foi um daqueles raros anos em que um brasileiro ficou na frente dos quenianos. Disse ele: “1997 vai acabar com o Brasil...”. Fez uma longa pausa, para só então concluir: “...em primeiro lugar”. O que espero de 2018 é justamente isso: que não acabe com o Brasil.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 28/12/2017
Reeditado em 28/12/2017
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