Ano Novo no aeroporto

O ano tinha começado há poucas horas e eu já precisava voltar a Brasília, pois trabalharia na manhã do dia seguinte. Felizmente, naquele ano não havia greve nos aeroportos, como chegou a ser aventado. E o atraso para o embarque havia sido de apenas meia hora, um luxo para a época. Meu vôo não era direto, eu precisava descer em São Paulo e trocar de avião. A viagem de Curitiba a São Paulo é tão rápida que os preparativos para o pouso começam quando você ainda está comendo. Limpei a boca, coloquei aquela mesinha de volta à posição e olhei para baixo. Agora era descer e procurar o local de embarque da minha conexão. Botei a mão no bolso para pegar o bilhete do novo embarque. Não achei. Procurei em todos os bolsos, olhei três vezes cada um, e nada do bilhete!

Comecei a me agitar. Precisaria correr atrás de um funcionário da companhia assim que chegasse ao solo. Havia só meia hora entre meu desembarque e a saída do outro vôo. Enfim pousamos, e eu tratei de sair dali o mais rápido possível, nem respondi ao “feliz ano novo” da aeromoça. Não demorei a achar um agente da companhia aérea, mas estava cercado de pessoas que tinham os seus próprios pepinos para que ele resolvesse. Esperei a minha vez e contei a ele o meu drama. O sujeito prometeu que voltaria com um novo cartão de embarque. E então se foi, sumiu para o andar de cima, e eu fiquei esperando. Vai dar tempo, pensei, o avião não vai sair sem eu embarcar.

Demorou alguns minutos até que ele voltasse, mas realmente trouxe o cartão. Agradeci e comecei a correr atrás do portão de embarque. Mas assim que cheguei ao local que estava escrito no cartão, eles me avisaram que o portão havia sido trocado! E o outro, naturalmente, era mais longe. Lá fui eu, correndo a mil, até que finalmente cheguei.

Mostrei o cartão a uma mulher e ela foi sincera como uma balança: “Esse avião acabou de sair”. Devo ter ficado aturdido e com a boca aberta olhando para o nada por um bom tempo. Mas a atendente me chamou de volta à realidade, dizendo que podia me colocar em outro voo. Não sei se eles fazem isso sempre ou se o meu estado despertou alguma compaixão. O fato é que ela me colocou em outro voo, que devia sair dali a duas horas. Bem, fazer o quê? Aceitei e até relaxei.

Sentei-me em meio à multidão de pessoas que também escolheram começar o ano em uma sala de embarque. Passaram-se as duas horas e nem sinal do avião. Sempre atrasa um pouco, pensei. Passaram-se três horas e veio um aviso de que nosso avião estava atrasado – nem havíamos percebido! E não vinha, e não vinha o avião, e os outros passageiros já estavam irritados e exigiam que a companhia fornecesse um lanche. Um funcionário disse que até podia fornecer o vale para um lanche, mas não podia garantir que o avião não aparecesse enquanto estivéssemos fora. O pessoal se irritou mais, começou a circular uma lista de e-mails entre os passageiros, todos juntos iríamos conseguir processar a companhia. Aí chegou o avião.

Chegou e não tinha tripulação. Levou quase uma hora até que aparecessem todos os tripulantes. Aí nós pensamos: “Enfim vamos embarcar”. Então fomos avisados que havia um problema mecânico na aeronave, e não havia previsão para consertar. Eram já 4 horas de atraso. E pensar que, na noite anterior, nós ouvíamos votos de “feliz ano novo”! Pois sim.

De repente, autorizaram o embarque. Não sei se consertaram ou não, acho que mandaram a gente entrar de qualquer jeito, sabiam que mais um pouco e a gente destruiria aquele saguão. Então entramos e tínhamos uma única certeza: aquele avião iria cair.

Quase duas horas depois, nada de mais grave havia acontecido e nos preparávamos para aterrissar. Prendemos a respiração. E, quando o avião parou, todos se levantaram e deram uma salva de palmas.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 31/12/2017
Reeditado em 06/01/2018
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