PULSEIRAS SÃO SONHOS

Eles cresceram juntos. Eram amigos do jardim-escola. Jorge empreendia na vida, e o Carlos dizia-se sonhador... Na quinta série, Jorge vendia colagens em recortes de revistas e dizia que eram etiquetas, fotos importadas, cartões postais... Carlos morava em seus desenhos nos cadernos, voava em balões, ao fim do recreio, que o levavam até o seu lar no final da aula.

Eles eram amigos inseparáveis. Um sempre apoiava o outro, mas do seu modo... Carlos o aconselhava a amar melhor os sonhos, e Jorge o aconselhava, naqueles sonhos, um poder de materializa-los.

Carlos contava a Jorge todas as suas invenciones em forma de sonhos, às vezes poesia, às vezes música, muitos desenhos, e noutras eram também pessoas... Às avessas, Jorge via tudo em números, matemáticas de lucrar, dizia a carlos que seria muito rico, pois era esperto e tinha poder para convencer qualquer um a comprar qualquer coisa. Um dia brincando e gabando-se de suas habilidades disse que, na sua capacidade, venderia até Carlos. Os dois riram disso até cansar...

Ainda jovens separaram-se na vida... Amizades são assim. O tempo e o destino às vezes, os fazem afastar...

Após décadas de ausência, um certo dia, Carlos buscou pelo velho amigo nas redes sociais, e o encontrou. Pelo seu perfil, ele morava em Wall Street e, nas fotos, percebeu que Jorge vendia pulseiras e artesanatos nas ruas, e, atualmente, se denominava “Jay B”. Carlos achou o nome engraçado. Era bem a cara de Jorge...

Carlos tinha uma editora, havia se tornado escritor de livros infantis. Então, mesmo à distância, decidiu ajudar o amigo. Lembrou-se das conversas, das promessas, e dos sonhos de Jorge, enquanto criança...

Usando-se dos seus contatos internacionais, todos os dias, e por intermédio destes, Carlos comprava a produção de pulseiras de Jorge.

Esse ritual seguiu por semanas, meses, anos... Jorge vendia... fez uma banca, depois mudou-se para um box, com o tempo montou uma pequena loja, seguida de uma rede de franquias, expandiu-se tanto que passou a se tornar um fenômeno de vendas. Deu palestras, foi até capa de revistas...

Carlos, com a chegada da idade, teve problemas com a saúde... Sem ele a editora não rendia bem. Sua ausência trouxe problemas financeiros que acabaram fechando suas portas.

Carlos, no leito de um hospital, agravado por uma doença terminal, liga para Jorge numa tentativa de, pela última vez, saber como vai o seu melhor amigo...

Jorge fica encantado com a lembrança de Carlos... conta-lhe que está muito bem de vida, que é um empresário reconhecido no mundo, que teve uma carreira de sucesso meteórica, que conseguiu realizar seus sonhos... Carlos, feliz da vida, lembra que Jorge lhe prometeu demonstrar que, realmente, era bom naquilo que dizia e seria capaz de vender qualquer coisa na vida, incluisive o próprio amigo... Os dois juntos deram muitas risadas. Lembranças de uma infância divertida...

Por fim, Jorge confessa a Carlos que, por varias vezes, sentiu muito medo de não conseguir realizar esse sonho, mas nunca desistiu. Carlos, curioso, pergunta a Jorge como ele conseguiu, e Jorge explica que milhares idiotas o enricaram comprando pulseiras.

A verdadeira amizade é mostrarmos apoio, afeto e compreensão, sempre e quando existir reciprocidade. Uma amizade, assim como todo tipo de relação, se baseia em um intercâmbio sincero de atenção, emoções, pensamentos, apoios… Nunca deixe de ser importante para o sonho de alguém.

Carlos, antes de morrer, doou todas as pulseirinhas para uma campanha mundial de apoio contra o câncer infantil, intitulada “Pulseiras são sonhos”; e Jorge vive realizado na vida, eternamente, vendendo Carlos.