Sonhos não envelhecem

Talvez, em algum lugar dentro de nós, nossos sonhos se encontrem e conversem sobre sua morada, nosso coração. Alguns dirão que estão em posição privilegiada, num canto especial da nossa alma, bem ali, perto das nossas memórias mais amadas. Outros dirão que costumavam viver distantes até que, de repente, acordaram numa casa luxuosa e passaram a viver cada vez mais perto de nós. Existirão, ainda, os que, por acaso ou destino, serão esquecidos até desaparecem junto ao vento que leva, também, amizades antigas e amores acabados que, garantem os poetas, já foram amados.

A todo instante, brincamos com o futuro e adaptamos nossos sonhos às metas, à realidade ou, quem sabe, àquilo que sonhamos fazer de nós. A etiqueta que enumera meu “eu” mais sincero, que estampa, desde criança, uma faixa e uma sala de aula, o bilhete que contém “professora” e hora marcada, por vezes, tira férias e vai ao encontro de alguns outros sonhos, tão sonhados. De repente, moro fora do país, acordo após uma noite tranquila e, de bicicleta, vou até a Sorbonne estudar as loucuras que tanto aceleram o meu coração. Tenho amigos diferentes e, em mim, surgem novos sonhos que crescem à medida que me reconheço. E, enquanto o universo encarrega-se de administrar o futuro, tenho uma família, 2 filhos, 1 Pug e um piano junto à minha mesa de centro azul. Sou feliz e tenho um emprego que adoro, talvez dê aulas em pequenas universidades e sou fluente em francês. Tenho um marido que amo e uma rotina que me basta até que, de repente, passei num concurso público e decidi ficar no interior. Tenho uma vida calma e durmo bem, ainda não me casei e penso em adotar uma criança.

Num salto entre tempo e espaço, tenho 20 anos e estou escrevendo esse texto. Não sei ao certo como terminá-lo. Poderia dizer que deixo o futuro ao futuro (citar Clarice Lispector é sempre uma boa saída) mas, na verdade, deixo o futuro aos meus sonhos. Entrego-o aos grandes moradores de mim e deixo que eles se resolvam para que, juntos, construam minha melhor versão. Peço, apenas, que eles deem lugar quando outros viajantes chegarem e que, em hipótese alguma, desistam de mim.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 06/01/2018
Reeditado em 07/01/2018
Código do texto: T6218539
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