APASCENTANDO OVELHAS

APASCENTANDO OVELHAS
Um dos meus costumes ou manias é zapear na televisão. Imagino, então, a dificuldade dos compulsivos em mudar frequentemente de canais antes do advento do controle remoto. Talvez esteja aí explicação para o corpitcho de bailarino espanhol naqueles que, a cada intervalo, tinham que tirar o bumbum do sofá para ver o que passava em outro canal.
Falando do zapear me aparece aí o sofá. Aquele da Saia Justa onde convidados e apresentadores dividem o confortável assento para tricotar sobre a vida dos outros ou sobre as grandes causas da humanidade. Como se vê, bastante eclético e com poucos limites. Foi o que vi nesta semana. Eram convidados o Karnal e o Padre Fábio de Melo. Blá blá blá para lá, blá blá blá pra cá... até a pergunta da âncora ao padre: como foi seu Natal? Respondeu que nesta época tem muito trabalho. Muito atenta, a cantora baiana Pitty entrou na conversa e fez agrado a uma conterrânea: então, padre no Natal e a Ivete Sangalo no Carnaval têm muito trabalho!
Na hora me veio à lembrança aqueles padres que conheci na infância. Numa época em que, como coroinha, recitava o “et cum spiritu tuo” após o Dominum Vobiscum proferido pelo vigário. E ali, chacoalhando o turíbulo ou incensório e “correndo” a cestinha para coleta do óbolo fazia da missa minha missão matinal. Não tanto pela recomendação de minha mãe, católica fervorosa e catequista na formação das crianças para a Primeira Comunhão; mais para ganhar selos que vinham nas correspondências da Itália: iam para a minha coleção.
Eram religiosos que trajavam pesadas batinas marrons, com uma cinta de contas e pequeno crucifixo na extremidade. Nos pés, meias e sandálias. O calor, em qualquer parte do Brasil, não os afastava da vestimenta, uma espécie de cartão de visitas. A qualquer distância você o via e sabia que lá vinha o padre. Era o sacrifício se contrapondo à expressão popular “vida boa é a de padre”.
Hoje os padres estão no Saia Justa... Seria em razão das calças justas que usam? Ou porque estão puxando o cordão do povo como a Ivete? Logo eles –em grande maioria – que preferiram deixar de lado extensas procissões. Viram que o importante é estar apascentando suas ovelhas em acordo com as ferramentas tecnológicas. Nem que para isso tenham que ouvir comparações como a da Pitty...
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