AS CARPIDEIRAS
Joana era de uma família  grande  ,casas próximas para poderem  estar sempre juntos, rir , brigar e fazer as pazes em seguida, coisa natural nas famílias italianas. Tipo, nós brigamos mas nos gostamos. A  casa de Jô  tinha um quintal   enorme    e como vizinhas  as cunhadas  e outros parentes. Na verdade  formava uma pequena vila. No fundo uma grande área verde  onde   cultivavam  frutas e até árvores nativas .
     Sua  mania  era ter o quintal sempre muito limpo, lavava as calçadas  todos os dias . E nesse dia não foi diferente , tão logo terminou de limpar  o quintal uma perua atravessa a pequena cerca  da casa vizinha  e  sai pisoteando seu pátio.
Joana ao ver aquilo enfurece ,pega um pedaço de pau e atira em direção à ave para espantá-la. Sem querer acerta na cabeça da pobre .Apreensiva se aproxima  para enxotá-la novamente .Só que a pobre não se levanta mais .Estava mortinha.
 Da janela do sobrado em frente , o vizinho  assiste a maldade  e ri muito com o desespero da mulher.  Ela,Preocupada resolve falar com o vizinho assistente e pedir que  seja discreto.
-E agora o que vou fazer ? Ele viu que eu matei a perua. Minha cunhada adora os  bichos.  Quando ela souber vai me matar .
Pensa rápido.  Junta o bicho  com um pano  e o atira   longe   na área verde  que  dava para o fundo de seu quintal.
     Entra em casa e vai fazer  seu almoço toda dissimulada, aparentando que nada  aconteceu.
     Após  alguns minutos  ouve o ‘GLU,GLU,GLU” de muitas peruas .Olha pela janela   e o que vê a surpreende.   Todas  as peruas(eram muitas ) ao redor da perua morta ,com os pescoços longos   inclinados  em direção à companheira .Pareciam chorar (choro de perua ,claro).
    Dessa vez Joana  se encolhe ,não sai em direção ao espetáculo fúnebre  com medo de levar umas merecidas bicadas.  Como  altrnativa viável e única ,pede para o vizinho :
-Seu JORGE, o senhor  assistiu tudo que aconteceu.Sabe que não sou uma pessoa má,me conhece a tanto tempo.Em nome de nossa amizade peço- não conte nada a ninguém. Minha cunhada   estima muito os perus que cria. Se souber  do ocorrido  se tornará minha inimiga para o resto da vida.
 - Sim prometo , isso não tem importância  ,era apenas uma perua já velha,nem  servia mais pra comer, a carne dura.
  Segurando o riso , ele jura que ninguém mais saberá. Partilha o crime como um cúmplice perfeito.
  Por um bom tempo o funeral continuou com as peruas companheiras   prestando sua  solene   homenagem, só  parando quando o caseiro chega com uma  enxada para  fazer  a cova  e o  enterro da morta.
  Elas então  formam uma fila indiana   e voltam para o quintal  seu quintal  entristecidas e quietas.
    Quanto a mim ,também assisti tudo lá do meu sobrado. Mas   ela jamais saberá  dessa audiência. Prometi   que não contaria a ninguém. Só me permiti fazer essa narrativa  substituindo o nome  da criminosa. Que me desculpe,se puder .
   As carpideiras  continuam  em seu gramado , fazendo o seu GLU,GLU,GLU em coro. Joana  , depois do susto  prometeu ser mais cuidadosa  .Espantaria os perus de uma forma menos agressiva. Não queria mais  enterro em sua área.