DOIS TEMPOS - KENNE DY MAQUINE

DOIS TEMPOS – kennedy maquine

O vespertino, o sol de verão que envermelha o céu, a brisa que acaricia o seu sorriso, seu olhar perdido a contemplar a aquarela da natureza à sua frente. Não faltava nada em seu “Paradise”, deixou para traz tudo: o seu coração, sua família, todos os bens.

No outro extremo, a rainha o aguardava para cumprir o ritual do carrasco – sempre o recebia, depois do trabalho com brigas que finalizavam, às ofensas: um prato de comida jogado à sua frente sobre a mesa. Outrora, viveram as delícias das primícias do desejo, quando a felicidade era sua companheira inseparável formando um triângulo de cumplicidade perfeito.

Durante, quase 20 anos o filme se repetiu tendo como expectadores os filhos que assistiam, em princípio passivamente, e depois de algum tempo, passaram a ignorar. O “velho”, como foi chamado pelos filhos, depois de uma repreensão, não tinha mais forças, nem saúde para continuar brigando em discussão sem fim.

Abraçado, sem medo, à ancora do navio que estava no convés, revolta pensamentos que não conseguira calar em sua alma: a beleza da mulher, o quanto das delícias que lhe descobrira, naquele corpo nas poucas noites amado, o som do choro das crianças que se misturavam com as do pai na maternidade. E apertou a alma.

O espetáculo, das andorinhas e dos bem-te-vis, fazia do céu um prenúncio à noite. A novela foi interrompida, mãe cadê o papai, ele tá demorando disseram os filhos. A mãe se ajeita no sofá e grita calando os filhos – Não sei, eu vou assistir a minha novela. Sentados ao canto da sala esquecem-se ao celular.

Finalmente o barco se inclina com a força máxima, depois daquela ponta de ilha não tem mais volta – repetiu suspirando como se avistasse a tão esperada liberdade. De repente, num ato de desespero, some pulando nas águas. Enquanto os ecos de vozes e o barulho do motor do barco buscavam à sua vida ele a deixava ir.

Amanheceu sobre a mesa, a sopa fria, intocada, denunciava que ele não tinha vindo pra casa. A mulher acorda os filhos e tenta entender o que aconteceu. Sua alma tinha perdido o encantamento, os sonhos, o amor. Tentou manter a dureza do seu coração num meditar, mas a pergunta do filho pequeno interrompeu segurando na sua mão – cadê o pai mãe? O maior concluiu: ele não vai voltar né mãe! Ela chora.

De inusitado, passos na varanda, o abrir da porta, enquanto a mãe e os filhos abraçados choram, entra um homem irreconhecível com as roupas rasgadas e todo sujo de lama, e sem esboçar palavras e sentimentos, sentasse à mesa, faz uma prece e come a sopa fria calmamente.

Kenne Dy maquine
Enviado por Kenne Dy maquine em 08/01/2018
Código do texto: T6220649
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