QUE VOLTEM A SER HUMANOS DE NOVO

Ele viveu o diabo e sobreviveu. Foi léguas além do fundo do poço, bem pra lá, fez coisas que a ficção duvida, que a ficção teme, que a ficção ficciona. Foi descobrir o que de pior existe nos becos da raça humana, aquele pedaço encardido que todo mundo chuta longe, ele abraçou, beijou, se enraizou. Nesse mergulho no chorume das almas, ele conseguiu arrancar cada fiapo, cada gosto, cada cheiro, cada nó, cada lodo. Poderia chamá-lo de herói, quem sabe. Poderia vê-lo como destemida criatura que não fugiu da briga, não arredou pé da dor, não mascarou as chicotadas que rasgavam seus ossos sem pena. Um cara que sacudiu a poeira, deu a volta por cima e renasceu do antro dos antros. Buscou forças no vazio, na piração em que infinitas viagens o enfurnavam, e venceu. Hoje vive de segurar outras almas para que não se afundem nas mesmas armadilhas que ele conhece tão bem. Hoje faz com que criaturas que a vida pegou pela mão para jogá-las naquele poço fétido, encardido, amaldiçoado. praguejado, voltem a ser gente de novo. Que recuperem suas almas, desgarradas pelos afiados dentes daqueles ventos que Deus, por certo, esqueceu de jogar fora. Esse cara hoje tem um santo ofício, privilegiado ofício, de não deixar que alguns nunca mais encontrem o caminho de volta. Talvez seja, para esses alguns, a última chance de jogarem a toalha de uma vez por todas e desistir de pisar num chão. Podemos dizer que esse cara vai em frente com a cumplicidade do Criador. Que possa continuar nessa missão, por vezes áspera, por vezes insana, por vezes injusta, para sempre. Que possa mesmo.

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Este texto é baseado numa história real.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 11/01/2018
Reeditado em 11/01/2018
Código do texto: T6222851
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